terça-feira, 9 de outubro de 2018

Nos filmes de ação policial sempre funciona...

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Como o título dessa postagem diz: nos filmes de ação sempre funciona. Pelo menos nos filmes policiais sérios, que são aqueles que não são de comédia, tipo “Loucademia de Polícia”. Acontece assim: O policial brabão vai lá, bate na porta da casa do bandido malvadão. O bandido malvadão não abre. E aí, o que o policial brabão faz? Chuta a porta. E, com apenas um chute, ela abre e o bandido malvadão que estava bem atrás, sai voando. E acreditando nessa premissa “chuta que abre” como verdadeira, eu entrei na polícia.

Aqui na Polícia Federal nós fazemos busca e apreensão com alguma frequência. Faz parte da investigação, como vemos na TV mesmo. Se procurarmos as estatísticas da polícia federal, no Brasil todo, somamos mais de uma operação deflagrada por dia. E muitas outras buscas sem estarem em operações grandes, principalmente nos interiores desse nosso Brasil de muitas fronteiras. Aqui a gente também trabalha, mas a mídia nacional normalmente só mostra o trabalho da PF dos grandes centros.

Pois chega de lorota e vamos para a história: um dia chegou uma ordem de missão com os seguintes dizeres: amanhã de madrugada, todos aqui na delegacia, pois faremos algumas buscas e apreensões pela cidade (claro que a ordem de missão é mais específica, esse é apenas o resumo dela). Porque vocês sabem que a Polícia Federal gosta de acordar os outros cedo né, tipo testemunha de jeová, só que um pouco menos invasivo!

E então, no dia seguinte, pouco antes de amanhecer, partimos para a casa do nosso alvo. Procurar entorpecentes era o objetivo. Chegando lá, a casa era rodeada por uma cerca de madeira, com o portão também de madeira. Não dava para pular, e não tínhamos levado escada. Por que o bom mesmo é acordar o “mala” batendo na porta do quarto dele, não na porta de fora da casa! Entrarmos sem sermos notados e, quando o meliante acorda, está olhando para nós, vestidos de preto – estilo tropa de elite, só que sem o tapa na cara e com ordem judicial.

Pois bem, como não tinha jeito de entrar de forma a não sermos percebidos, batemos palmas e começamos a chamar (sim, não somos só tiro, explosão e bomba). Mas nada de o cidadão aparecer para nos franquear obrigatoriamente o acesso a sua casa. Então perguntei ao delegado da equipe: posso chutar? E ele respondeu: pode!

Meus olhos brilharam. Agora eu vou ser o policial brabão. Nem acreditava. Realização de um sonho. E eu, vestido de preto, Polícia Federal escrito em dourado nas minha costas, com um coturno brilhando, peguei distância e meti o pé no portão, com toda a força disponível. O que aconteceu: o portão foi e voltou. A cerca de madeira, flexível, amorteceu o chute e nada aconteceu. E eu prossegui chutando, e o portão balançava, indo e vindo, mas não abrindo. Foram uns 10 chutes ou mais, e nada de o portão abrir. Cacete, nos filmes policiais não é assim, é sempre mais fácil, pensei!

Até que, por causa do barulho dos chutes, o dono da casa acordou e foi lá fora ver o que estava acontecendo. Eu, percebendo o quão inútil era eu chutar, já tinha parado. Assim que ele abriu a porta da casa, o delegado informou o porquê de estarmos lá. Então o “mala” se dirigiu ao portão, desentortou um prego que travava o portão, e abriu. Sério, era um mero prego que segurava o portão fechado. Fico imaginando como o policial do filme abre com apenas um chute aquelas portas de segurança! Desilusão total.

Lição aprendida: leve uma escada, alicate, e abra por dentro. Já aconteceu de a entrada da casa ser uma grade de ferro e, nesse caso, tivemos que cortar o cadeado para abrir. Ou seja: a maioria das vezes só o chute não resolve.

sábado, 26 de maio de 2018

Apenas um desabafo. Polícia Federal: Sonho ou pesadelo?

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Polícia Federal: Sonho ou Pesadelo?

A gestão do capital humano na Polícia Federal deveria se preocupar mais com a satisfação do seu pessoal, tratando como peça essencial para o sucesso do órgão, reconhecendo o valor de cada um. Esse reconhecimento gera um policial federal mais envolvido e comprometido com a instituição, MOTIVADO, fazendo ele se sentir parte da PF, havendo, assim, uma identificação pessoal com o órgão. E isso é fundamental para a saúde de ambos: Servidor e Polícia Federal.
Vendo a atual desmotivação de grande parte do efetivo policial, não acho que a gestão de pessoal esteja se preocupando de nenhuma forma com os seres humanos policiais. Isso começa na ANP, com a tentativa de eliminar cada aluno. Vi alunos sendo eliminados sem nenhum critério ou por motivos insignificantes com justificativas do tipo: por que sim. Posso dar como exemplo um aluno que numa aula de defesa pessoal fraturou a última falange do dedo anelar. E, mesmo isso não causando nenhum prejuízo e nenhuma atividade, ele foi eliminado. Isso já começa a causar frustração.
O código penal ordena que “não há crime sem lei anterior que o defina e não há pena sem previa cominação legal”. Na academia o crime é definido na hora. Sem regra anterior. E a pena é dá cabeça de cada gestor. Cada aluno deveria ser tratado como uma pessoa viva, e não como apenas um número. São sonhos de uma vida que estão em jogo. E frustrar sonhos não ajuda a motivar. Criar regras claras e transparentes já seria um bom começo.
Ao tomar posse jogam você na sua cadeira e falam: faz isso. Não há conversa. Não há reuniões. Não há feedbacks. Ou faz ou eu mando outro fazer! É assim que acontece na maioria das vezes. Não há treinamento dos gestores para gerirem de fato. Cada um faz da sua cabeça, sem nenhuma uniformidade de uma gestão para outra. Faz o servidor pensar: “o que eu estou fazendo aqui? Isso não é minha casa e parece que nunca será”. Não há perspectiva de melhora. E essa falta de perspectiva é muito desmotivadora. Treinar os gestores para entenderem o que deve ser feito e como deve ser feito seria uma boa forma de começar a mudar essa situação.
Não há meritocracia de fato. Os servidores que desenvolvem ótimos trabalhos, ao invés de receberem benefícios, recebem mais trabalho. Os servidores ruins são beneficiados com pouco trabalho e com viagens e remoções, já que ninguém os quer por perto. Os gestores que conheço não se preocupam em saber o porquê da desmotivação. Um exemplo de “prêmio” para bons servidores seria, por exemplo, uma missão em casa – para quem está fora de casa – ou o direito de escolher férias primeiro que os outros, por exemplo. Deveriam haver métricas objetivas para mensurar a qualidade do trabalho de cada um.
A gestão de pessoal vai desde se preocupar com o ambiente onde acontece o trabalho, até cuidar da própria saúde do servidor. Não só pensar que o servidor ganha o salário dele todo mês, então tem que fazer o que eu mando sem questionar. Isso empobrece a polícia federal como um todo. Contra-argumentos ajudam a desenvolver ideias e pensamentos. Debates são saudáveis para o desenvolvimento.
Um servidor motivado trabalha mais e se empenha mais. Com isso gera mais e melhores resultados frutos do seu labor. Não adoece. Se sente satisfeito onde está e se sente parte da instituição. Fica com a mente sã. E isso faz todos saírem ganhando. O servidor feliz onde está. E o órgão, que estará em pleno desenvolvimento e saudável, já que o órgão é a soma dos seus servidores. Isso se torna um círculo vicioso. Servidor saudável, polícia saudável.


ps.: Isso foi um desabafo de alguns meses atrás que fiz numa redação para um curso interno.
pps.: Nem sempre tudo são flores. Na verdade, quase nunca.
ppps.: Isso é para aqueles que pensam que é tudo uma maravilha. Galera, essa fase minha passou. Mas tive que correr atrás. E recebi uns conselhos de uma certa Novinha (mulhernapolicia).
pppps.: Ah, tirei nota máxima nessa redação. Pra me gabar um pouco.

terça-feira, 24 de abril de 2018

A escolha das Vagas na Academia Nacional de Polícia - ANP

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Imagem do Teatro de Arena na Escolha de vagas. Não sei o ano, peguei a imagem no google. Se imagine aí!

Baseado na pergunta do Leandro Mota, falarei como funciona a escolha de vagas na Academia Nacional de Polícia - ANP.

Após quase todo o curso, restando algumas poucas aulas, mas nenhuma prova, acontece a famosa escolha de vagas da Academia Nacional de Polícia. As provas todas já ocorreram porque a escolha é baseada na sua colocação dentro da ANP. Ao chegarmos na academia, zera a nossa nota do concurso e todo mundo volta a ser igual. Vai de você estudar para ficar bem colocado e poder pegar uma vaga menos ruim, ou não. Há quem não esteja nem aí. Eu me preocupei!

Só vão para a academia as vagas que sobram do concurso de remoção do efetivo interno. Traduzindo: onde o efetivo não quer estar, são as vagas que sobram para os futuros novinhos. São muitas cidades que sobram. Desde São Paulo até Oiapoque. Se você é do Rio de Janeiro ou do Nordeste, saiba que vai demorar para voltar para casa. Sem querer ser estraga-prazeres.

Dentro da ANP você só tem ideia da sua colocação atual porque os próprios alunos vão fazendo uma lista com as notas de todos. Há quem se dá o trabalho de ir de sala em sala pegando nota a nota e montando uma planilha Excel. E nessa lista você sabe mais ou menos em que colocação atual você está. Não há lista oficial da colocação até chegar no dia da escolha. Isso é meio tenso.

As competição entre os alunos é acirrada e as notas são bem parelhas. Por exemplo, a diferença do 600° pro 1°, na minha academia, era de menos de 1 ponto. Então, bastam algumas notas menores que 9 para você começar a despencar. E não é fácil de se recuperar. Na verdade, é quase impossível.

Quando se está quase no final, para nós finalmente nos formarmos, reúnem todos os alunos no Teatro de Arena. É um lugar que cabe todo mundo. Nesse dia você pode levar o celular. Porque muita gente precisa falar com mulher, mãe, filhos para ajudar a escolher a melhor lotação inicial. Pela lista feita pelos alunos, dá para se ter uma ideia em qual cidade vamos parar, mas nunca é certeza. Por exemplo, quando eu estava lá havia rumores de que São Paulo, por ser uma capital cara de morar e de baixa pontuação (eu explico isso depois), seria uma das últimas lotações a serem escolhidas. Porém foi uma das primeiras.

Chegando no Teatro de Arena, ligam um projetor. Na tela: de um lado a lista das cidades com as respectivas vagas. Do outro lado a lista com os alunos ordenados por classificação. No meu caso eram quase 700 alunos. Faz-se uma fila com 10. Começa do zero um da academia. O cara mais bem classificado. Ele vai até o microfone, grita o nome, colocação e a cidade pra qual quer ir. Já entra o 11° na fila. Vai o segundo. Já entra o 12° na fila. E assim prossegue até o zero último.

Dura algumas horas esse processo.Se cada aluno demorar 30 segundos, são quase 6h de duração. Foi mais ou menos isso. Houve um intervalo para o almoço. Na hora das escolhas é bem divertido e descontraído. Tem aluno doido bem colocado, por exemplo, que escolhe tabatinga. Aí a galera grita, vibra. Mas acho que esse momento da escolha da lotação inicial é o momento que você tem que ter mais cuidado para não ir para um lugar muito ruim. Tem que ter em mente que ali será sua moradia por alguns anos. Ninguém sabe quantos. Logo, não dê uma de super herói. Escolha, caso tenha oportunidade, a melhor lotação possível. Todos serão policiais. Não vá na onda de alguns que dizem que para ser PF de verdade tem que ter passado por uma lotação horrível. Balela isso.

E quando termina o dia da escolha, tudo volta ao normal. Mas agora você sabe oficialmente para onde vai. Começará a procurar sobre sua lotação. Conversará com os professores que são lotados na sua futura cidade. E, mesmo que você tenha ido para um lugar "ruim", vá de mente aberta. Faça de lá o seu lar, que o tempo passará muito mais rápido e será muito mais divertido. Em todos os lugares do Brasil existe gente e coisas interessantes. Busque isso.

ps.: terminando de responder a pergunta do Leandro: Você só veste a camisa preta após estar empossado. A única coisa que você "ganha" do departamento é a arma, um notebook e o colete. O distintivo e a camisa você compra, se quiser. A primeira vez que vesti a camisa preta foi para um treinamento de tiro.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Aulas de tiro na Academia da Polícia Federal

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Aula de tiro na Academia da Polícia Federal - ANP

Mas a primeira semana é sem muita emoção pelas aulas. Nada de mais mesmo. Muita apresentação da academia e como ela funciona e algumas aulas teóricas. Mas mesmo assim é correria para todo lado, já que você é aluno e está começando a aprender como se portar e vai descobrir que 1 minuto é considerado atraso punível. Você não vai lembrar que uniforme usar no dia. Vai esquecer de fazer a barba ou esquecer de levar o boné. Tomará as famosas canetadas (cada uma tira um pouco da nota de conceito, o que pode mandar você, no final, para o quinto dos infernos - tipo Oiapoque).

Mas na segunda semana, com os alunos mais aclimatados com a academia, começam as aulas práticas e a tão esperada aula de tiro. Galera vibra demais pra ter essa aula. Acho que é a aula mais aguardada pela maioria dos alunos. Quem era das forças armadas e demais forças de segurança já não fica mais tão ansioso. Mas o resto fica bem apreensivo. Muitos nunca atiraram e já se imaginam o próprio Rambo.

Para ir e voltar da aula de tiro, o caminho é feito correndo. Sempre correndo. Mas não é longe. Uns 400 metros talvez. E a aula é no sol. É impressionante como nessa hora as nuvens somem e sol brilha forte. E os professores do Setor de Armamento e Tiro (SAT) gostam de falar. Os caras falam muito. E sempre no sol, nunca na sombra. Normalmente são duas horas por vez de aula. Então são bem cansativas. Ainda mais no sol (eu já disse que a aula é sempre no sol forte?).

Acontece muito de depois dessa aula de tiro ter outra, mas teórica, e grande parte da turma ter que lutar contra o sono e o cansaço. Principalmente se a aula de tiro é após o almoço. O cara sai do almoço, corre pro alojamento, toma banho. Não dá tempo de cochilar. Já se arruma, corre para a formação da tarde. Depois já corre para a aula de tiro. Ou seja, não descansou nada. Chega na aula teórica, 4h da tarde, quer morrer. Nem café dá jeito.

Ah, e você terá muita aula de tiro. Muita! Quando você cansar de atirar, ainda falta metade da academia. Vai atirar de pistola, revolver, submetralhadora, fuzil, bazuca, grana, estilingue, ar comprimido, funda e... opa, me empolguei. Só até a parte do fuzil. Eu não contei quantos disparos demos, mas os professores falaram que foram 1635 tiros disparados por cada aluno. Pensa aí. Multiplique por 700 alunos!

Já no final do curso, juro para você, as aulas teóricas que antes eram monótonas, parecerão muito mais atraentes que as aulas operacionais. Você não aguenta mais se sujar, correr, agachar, atirar, levantar, catar estojo, atirar, atirar e atirar. Só de falar nas aulas de tiro, ainda hoje, eu sinto o cheiro da pólvora.

Os professores são bons atiradores e a maioria tem uma didática boa. Tratam todos como se ninguém soubesse atirar. Isso é excelente. Fique sempre atento para não bisonhar e fazer besteira na linha. Limpe bem sua pistola. Terão aula disso também. E é algo que levará para sempre. Mais do que atirar na sua vida funcional, você limpará sua arma. 

Acho que era isso que eu tinha para falar sobre a aula de tiro.

ps.: Próxima postagem vou tentar falar sobre a aula de abordagem. É engraçado na academia todos treinando para a prova.
pps.: Ajudem aí dando ideias. :)

domingo, 1 de abril de 2018

A vida na ANP - Academia Nacional de Polícia

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Essa é A placa. Fecha os olhos e realiza!
Acabaram me perguntando no outro texto se eu podia dizer como foi a vida na ANP. E eu realmente não lembro de ter escrito sobre isso. Falei de algumas aventuras lá dentro, mas a vida em si acabei me esquecendo de falar.

A ANP é chatona! Pronto. Era tudo que eu tinha a dizer.

Zoeira. Não era tudo que eu tinha a dizer. Mas eu não tenho saudades daquela academia. Sério. E de todos os colegas para quem eu já perguntei, nenhum tem saudades. Temos saudades dos amigos feitos. Das brincadeiras, das farras e das federetes amigas. Essa última parte é zoeira.

Quando você chega, tem a famosa fila. Como eu fui um dia depois, evitei essa famosa fila. Sério, eu já tinha passado por uma fila na entrada da academia da PRF. Não precisava passar por mais uma. Mas a galera curte. Tem nego que dorme na porta da ANP no dia anterior à matrícula para ser o primeiro da fila, Eu acho doideira. Mas se você tá nesse espírito, vai lá. Mas aviso que serão muitas filas durante os 4,5 meses lá dentro. Fila pro vestiário, fila pro almoço, fila pro café, fila pra janta, fila para comprar material, fila para entrar de manhã no bloco das salas de aula, fila para entrar a tarde no mesmo bloco (já até esqueci a letra do bloco). Os blocos lá são identificados por letras.

Esqueci de dizer que tem uma placa na entrada da ANP, bem na entrada, que diz: Entrada para realização de um sonho (Alunos). Velho, essa placa é foda! Falo com lágrimas nos olhos. Porque quando você chega lá, realmente você nem consegue acreditar. Você olha para aquilo e diz: eu consegui. PQP EU CONSEGUI! E você respira fundo. Porque a sensação é surreal. E disso eu me lembro bem. Essa sensação de conquistar aquilo que você sonhou. Aquilo que você lutou. Essa sensação... ahhh faz tempo!!

Bom, depois que você chorou perante A placa e sobreviveu à primeira fila, a da entrada, vêm a fila para comprar material. Dessas filas eu só soube de relatos. Um amigo disse que chegou 8 da manhã na ANP no primeiro dia, e só conseguiu chegar no alojamento 4h da tarde. Eu cheguei 14h do segundo dia e 15h estava no alojamento. Então, evitei umas filas.

Você vai gastar uns R$ 600,00 em material lá dentro. Se não tiver dinheiro, a loja faz fiado e você pode pagar quando receber a bolsa. A bolsa, que é a parte mais legal, é equivalente a meio salário inicial do cargo que você está pleiteando. No caso de Agente, Escrivão e Papiloscopista está mais ou menos uns R$ 5900. Ela atrasa que é uma beleza. Eu não recebia a bolsa, já que estava licenciado para fazer o curso de formação. Eu recebia meu salário de PRF. Há essa possibilidade na legislação. Então não sofri com atraso e ainda recebia um pouco mais! Soube que atrasava por relatos também.

Basicamente sua rotina é acordar 6h da manhã, ir para o refeitório tomar café. Depois ir para a formação que tem toda manhã. As turmas cantam o brado e depois entram em fila. Não pode conversar, não pode sorrir, não pode piscar. Velho, eu já tinha passado por isso em outra academia de polícia, então já viu né! Mas tinha muita gente vibrando. E tem que vibrar mesmo. Eu que era chato de galocha! E tem gente desmaiando também, por ter ficado muito tempo parado em pé. Você vai estar lá e vai lembrar disso aqui que está lendo.

Depois você vai para aula. Tem uns que vão para a aula de educação física, uns para as aulas teóricas e outros para as aulas operacionais, que são várias e eu não vou lembrar de todas: Tiro, abordagem, direção operacional, vigilância - a melhor de todas para mim -, e outras mais). Essas aulas do turno matutino terminam por volta de meio dia. E você tem 2h pra almoçar e descansar. Nessa hora você pode fazer o que quiser. Tinha um amigo no alojamento que almoçava todo dia atum com miojo para não ter que ir para o refeitório.

Você volta à tarde, 14h. Em pé de novo. Brado de novo. Fila de novo. Sala de aula. Essas aulas terminam por volta das 17h e 30 min. Depois você está liberado. Alguns dias você tem aula até 19h, 21h e pode ter até mais de meia noite (alguns dias). E no sábado normalmente vai até meio dia. Você estará liberado para sair da academia a partir de sábado meio dia, podendo retornar até segunda pela manhã. Pode ir e vir durante o dia todo se quiser. Só não pode sair mais e nem entrar mais a partir das 23h. Se passar das 23h, só pode voltar 6h da manhã. E se ficar dentro, só pode sair após 6h da manhã. Consegui explicar?

ps.: Próxima postagem eu comento mais sobre as aulas e as primeiras semanas.
pps.: O que acharam? Comentem.
ppps.: Se não entendeu, baixa e já empurra a terra 10 vezes. E diz o que não entendeu.

quinta-feira, 29 de março de 2018

Missão Policial Federal - drogas a caminho - Minha primeira vez!

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Recebemos a informação de que estavam chegando na cidade dois veículos suspeitos, que viriam especialmente para pegar drogas e levar para o sul/sudeste/centro oeste do Brasil. A informação era quente. Veio recheada de detalhes, informando qual eram os veículos, seus motoristas e possíveis localizações.

Equipes foram para a rua tentar localizá-los. Esses traficantes/mulas tem basicamente o mesmo modus operandi. Então, conhecendo o comportamento padrão deles e a cidade onde estávamos, fomos em busca dos possíveis locais que eles poderiam estar. Não foi rápido nem fácil localizá-los. A cidade é relativamente grande. Mas logo chegou uma mensagem do chefe da equipe: a equipe Alfa encontrou um dos veículos suspeitos. Opa, pensei, começou a ficar bom!

Sobrou para a minha equipe. eu e o outro colega, acharmos o segundo veículo. A possível localização era um estacionamento rotativo da cidade. Tínhamos que passar despercebidos e, por isso, entramos totalmente descaracterizados. Viatura velada, e nossos trajes super operacionais: bermuda, chinelo e camiseta. Demos uma volta para procurar e, pelas características que nos foi informada, lá estava ele. Enviamos uma mensagem para o chefe da equipe: Segundo veículo localizado. Pensei: dessa vez vai!

Abre parenteses
Mas o que acontece quando se localiza os veículos, você me pergunta! Prende, mata, esfola? Nada disso, meu incauto leitor. Precisamos dar o bote na hora certa. Feito uma cobra Naja. Precisamos ser precisos ou podemos queimar a missão por completo. Quando damos o flagrante, a droga tem que estar com eles. Não adianta fazer tudo certo e dar o bote na hora errada. Sem drogas, sem flagrante, trabalho perdido. Logo, nada de ejaculação precoce. Segurar a ansiedade e dar prosseguimento ao plano.
Fecha parenteses

Após localizar ambos os veículos, fizemos uma vigilância longa. Com várias equipes se revesando para não perdê-los de vista. Vigilância essa que teve direito a filmagens e fotografias. Tudo na surdina, sem levantar suspeita dos suspeitos (hein??). Essa parte, apesar de muito cansativa, foi bem divertida. Esse tipo de trabalho faz você se sentir "O Agente". Tipo o 007. É muito empolgante (pelo menos para o novinho aqui). 

Para quem pensa que é um trabalho rápido, quem dera! Tivemos que ficar em vigilância uns 5 dias. Durante um desses dias conseguimos filmar um dos veículos e o possível dono da droga dentro, além de conseguir ver o encontro dos alvos. Tudo certo. Agora já tínhamos o vínculo que precisávamos para ligar um ao outro.

E, no sábado, umas 20h, eu estava me preparando para ir para uma festa, arrumado, recebo uma ligação: APF do Norte, todos na base às 22h30min (adeus festa). O comportamento dos alvos indicava que eles já tinham pegado a droga e iam partir naquela madrugada. Eles, os malas, preferem trabalhar em dias de finais de semana, feriados e madrugadas, pela diminuição natural da fiscalização. Mas dessa vez eles se enganaram. Nós estávamos à espreita.

Os alvos haviam se encontrado algumas vezes naquele dia e o nosso analista previu: é hoje que eles vão sair da cidade. O comportamento era típico. Já devem estar carregados, disse ele. Uma equipe fica vigiando e a outra aguarda na base o comando de sair.

Minha equipe ficou na base aguardando. E aguardamos. E aguardamos. E aguardamos mais um pouco. Quando estávamos todos quase desistindo. Uns tinham se jogado no sofá, outros já estavam desarrumados só aguardando a ordem de desmontar. Eu e um colega já tínhamos saído para comprar lanche para todos. No meio do caminho, já voltando com os lanches, o chefe liga: os traficantes saíram! Aí sim foi um corre-corre. Voltamos voando para a base, equipamos com colete, fuzil, algemas, gás de pimentas e narcotestes. Pegamos as viaturas, eram duas, e partimos atrás.

Abrirei um outro parenteses aqui:
Nesse dia eu achei que ia morrer. Não de confronto armado, mas de acidente de viatura. O colega estava puxando 170 km/h. Falamos: Sério velho, deixa a droga ir embora mas não mata a gente não, beleza? Obviamente não foram essas as palavras. Foi algo do tipo: diminui essa porra caralho, tá doido é? Vai matar todo mundo. Acho que foi mais ou menos assim.
Fecha o parenteses.

Nós conseguimos alcançar o primeiro veículo. Estávamos nas viaturas descaracterizada. Então passamos por ele, como se nada tivesse acontecendo, e fomos em frente. Queríamos pegar os dois. Apesar da corrida com a viatura, não conseguimos alcançar o segundo veículo. Ele tinha saído mais cedo para ir olhando se não tinha fiscalização policial e acabou escapando. Essa nossa viagem tentando alcançá-lo deve ter durado por volta de 1h30min. Como tínhamos certeza de que os entorpecentes estavam no primeiro carro, resolvemos abordá-lo e informar a delegacia da próxima cidade que o segundo carro  tinha conseguido escapar.

Já era dia quando abordamos e mandamos encostar. Bem dia, sol quente. O motorista encostou sem resistência. Até achamos que ele estava tranquilo demais. Solicitamos verificar o interior. Ele não se opôs. Mal colocamos a cabeça para dentro e já encontramos os pacotes. Narcoteste feito, positivo para cocaína. Mais de dez quilogramas de cloridrato de cocaína, conhecido também como pó.

Liguei para o chefe da equipe e disse: pegamos. Finalmente pegamos! Grampo (algemas) no motora. Agora tinha o caminho de volta todo ainda. A equipe estava bem cansada. Após o colega que estava dirigindo a viatura em que eu estava quase sair da estrada cochilando de tanto sono, eu perguntei: quer que eu leve. Ele fez que sim com a cabeça, encostou e eu assumi a direção o resto do caminho.

Foi minha primeira vez. Tive que tirar uma foto com os entorpecentes apreendidos. Terminamos a ocorrência por volta de meio dia. Tinham sido horas de espera e acompanhamento. Tudo que eu queria era minha cama. Nesse dia eu lembro de ter ficado bem satisfeito com meu trabalho e bem cansado também. Tomei um banho e dormi. Nem lembro se almocei antes de dormir. 

E foi assim minha primeira apreensão de entorpecentes na Polícia Federal.

ps.: Sugestão para postagens, por favor!
pss.: Se você gostou, comenta aí. Se não, comenta também.