sexta-feira, 22 de maio de 2020

Eleições como Policial Federal – muito trabalho - parte 02

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Nós chegando na aglomeração.

Continuando o texto da semana passada sobre o trabalho nas eleições. Se você não leu, click aqui para ler!

Nós fazíamos algumas rondas com o pessoal da Polícia Civil. Um dos objetivos era impedir aglomerações por causa da compra de votos. Coisas comuns, como eu disse no outro texto, que acontecem nas eleições principalmente dos interiores do nosso país. Montamos nas nossas viaturas e saímos rodando a cidade.

Entrávamos em cada ruazinha, beco, viela, procurando aquele crime (um pouco de drama). Até que passamos por uma casa cheia de gente. O Pessoal da PC parou a viatura um pouco mais afastado, nós paramos logo atrás deles. Desembarcamos das viaturas, eu e o colega da PF mais os dois colegas da PC. Reunimos rapidamente próximo à casa da aglomeração para planejar mais ou menos como faríamos, para não ficar tudo descoordenado, e partimos para ver o que estava acontecendo na casa.

Não posso esquecer de dizer que as duas equipes, PF e PC, estavam vestidas ostensivamente. Roupa preta, coldre com arma, algemas e spray de pimenta na cintura. Calça e coturnos táticos. Dignos de aparecer no fantástico só pela paramentação. Se não me engano um policial civil ainda tinha uma submetralhadora em uma das mãos. Então estávamos chamando bem a atenção por onde passávamos.

Agora voltando à ocorrência.

Rapaz, tem coisas que só acontecem comigo. Parece que é predestinado: APF do Norte, vai ser com você! A gente foi chegando perto da casa, esperando achar um vereador ou um prefeito, com os bolsos cheios de dinheiro, distribuindo para a população, com a horripilante intenção de comprar votos, mas não! Ao chegarmos na entrada, olhamos direitinho e, para nossa surpresa, o que estava acontecendo? Um velório (naquela época ainda podia velório, acho que os mais jovens nem devem lembrar - pandemia me afetando já, desculpem). 

Sério, parece até zueira, mas não é. Pensa em 4 policiais com cara de besta saindo de fininho pra não chamar mais atenção do que já tínhamos chamado! Nos recolhemos a insignificância de nossas viaturas, recobramos nossas dignidades e partimos.

E foi assim que terminou mais essa aventura. Essa talvez tenha sido um pouco mais constrangedora que a outra!

Ps.: Pessoal, não esqueçam de compartilhar nas redes sociais se vocês gostarem e me sigam também no instagram @apfdonorte. Lá eu tento ser um pouco mais descontraído e mais frequente.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Pontuação das lotações e Adicional de Fronteira na Polícia Federal

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Pessoal, como esse assunto é uma dúvida geral de quem faz o concurso da Polícia Federal, e principalmente de quem vai para a ANP, estou postando o ranking de pontuação de cada lotação e se tem ou não o adicional de fronteira. Pode um ou outro estar incorreto, ou faltar uma lotação ou outra, mas foi o melhor que eu consegui. Grande ajuda do meu amigo @pedrocooke. Sigam ele lá no instagram. Cara dá dicas de concurso e até escreveu um livro.

Aproveitem e me sigam lá também: @apfdonorte.


ps.: Pessoal, se forem replicar essa planilha, peço por gentileza que deem os créditos.
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terça-feira, 12 de maio de 2020

Eleições como Policial Federal – muito trabalho

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Prepare-se para quase nunca mais votar na sua vida, já que em todas as eleições, ou em quase todas, você terá que viajar para trabalhar em outras cidades da sua jurisdição, já que a PF sempre envia vários agentes, escrivães e delegados para essas regiões, quase sempre em duplas. Normalmente a cidade é de interior do interior, ou seja, muito pequena, principalmente se você estiver em cidades de fronteira.

Nessas cidadezinhas provavelmente você ficará colado com o promotor ou com o juiz, ou com ambos. Existem muitos crimes eleitorais e pouca fiscalização. Prefeitos e vereadores podem ser eleitos à base de compra de votos. E como a maioria da população é muito carente, e tanto faz quem vai ser ou deixar de ser o prefeito ou vereador, não ligam muito por “vender” o voto por mixaria. Quem é de interior pequeno ou já foi em eleições nessas cidadezinhas sabe bem disso.

E para quem não conhece o norte, olhe no mapa. Não há estradas para grande parte desses pequenos interiores. Por isso, para chegar até lá, existem duas possibilidades: pelo ar ou pela água. As nossas principais BRs aqui são os rios. Mas algumas cidades ficam a dias de distância pelo rio. Algumas são tão distantes que ficam a mais de 10 dias de barco de distância. Como não temos esse tempo todo para chegar e voltar dessas missões, a opção escolhida quase sempre é pelo ar.

Grande parte dessas localidades tem aeroportos. Que na verdade são pistas de pouso com um prédio que pode servir de torre de controle/local de trabalho de alguns funcionários. E algumas só tem a pista de pouso. Essas pistas existem pela necessidade de que alguns mantimentos precisam chegar rápido, ou até mesmo retirada aérea de doentes (acontece muito). E, se você tem medo de voar, definitivamente a Polícia Federal não é para você. Porque nesses casos a única forma de chegar é viajando em um avião pequeno, normalmente é um monomotor de 4 lugares mais o piloto. Pense num troço que chacoalha.

Porém, quando viajei para essa missão, fomos no helicóptero da PF. Pessoal do CAOP foi de Brasília até nossa fronteira no norte, para pegar os policiais e deixar cada um nas suas respectivas cidades de trabalho. Acho que nesse helicóptero cabiam 2 pilotos, mais 12 passageiros. Sendo que dois deles eram operadores do CAOP. Até brinquei com um deles falando: vocês treinam dia e noite, atiram até de ponta cabeça, e a missão é passar dias viajando até aqui para transportar a gente pra eleição. Deve ser chato! Ele riu e falou: “faz parte!”. Essa galera dos grupos especiais tá pronta pra quase tudo, pensei. E ainda fazem sem reclamar de nada. Tiro o chapéu.

Voltando para a missão. Entramos no helicóptero. A cidade que eu era lotado não era tão pequena, então nem a chegada nem a saída do helicóptero dá PF não foi um evento que chamou atenção. Mas ao chegar nas cidadezinhas, o aeroporto simplesmente lotava. Muita gente assistindo pouso, desembarque, decolagem. Helicóptero cinza da Polícia Federal era um evento raro.

Agora pensa você que acabou de entrar na Instituição. É você que vai ser transportado. É você que vão ver saindo daquele helicóptero todo paramentado com as letras douradas nas costas escrito “POLÍCIA FEDERAL”. Vou falar para vocês: a viagem é demorada, cansativa e quente, mas a sensação de estar ali é boa demais.

Mas, como sabemos, a vida não é feita só de alegrias. Você finalmente, após algumas horas de voo, chega no seu destino. Para terem uma ideia, a cidade para qual fomos ficava no estado vizinho, no meio da floresta. Então você e seu canga descem, atravessam a multidão que está olhando para vocês (uns admirados, outros desconfiados), veem o helicóptero partir, e vão para o hotel. E aí é quando a verdadeira aventura começa.

Nós chegamos ao hotel e nos instalamos. Felizmente tinha quarto individual. Percebemos que os celulares mal mandavam SMS e que não havia wifi. Não deu tempo de descansar muito. Tivemos que ir a uma reunião com o Juiz, promotor, e com o policial civil que era chefe de polícia/carceragem do lugar. O delegado da capital ainda não havia chegado.

Nessa reunião foi decidido como íamos agir. O que deveríamos fazer e os horários de trabalho. O juiz e o promotor foram bem solícitos e aceitaram bem as ideias que demos. Dessa vez não ficaríamos com o juiz nem promotor. Eles optaram por nos dar uma viatura para ficarmos circulando pelos colégios eleitorais. Fomos comer alguma coisa e depois descansar um pouco. À noite saímos para jantar e o chefe da polícia foi nos mostrar os colégios e um pouco da cidade. As eleições seriam no dia seguinte.

Na reunião ficou decidido também que iríamos fiscalizar principalmente crimes eleitorais, o que incluía ir a bares que estivessem para verificar se estavam descumprindo a lei seca. O objetivo não era prender, era orientar as pessoas que lá estivessem, mandar para casa e obrigar a fechar o estabelecimento. Porque se fosse prender, dependendo de como estivesse a delegacia, a equipe ia perder o dia. Quem é policial sabe que um flagrante normalmente demora horas para ser lavrado. Ainda mais em dia de eleição com a delegacia cheia.

Então, no dia da eleição, como não conhecíamos a cidade, ficamos rodando junto com o chefe da PC e mais um policial civil. Cada instituição com uma viatura. Indo de bar em bar e mandando fechar os que estava vendendo bebidas alcoólicas.

Chegamos em um bar perto de um dos colégios eleitorais. Lá tinham algumas pessoas sentadas e resolvemos fiscalizar cada uma. Perguntar se estavam bebendo, avisar que não podia beber ali, e essas coisas mais que Polícia faz. O Policial civil virou para nós e disse: “aqueles senhores ali”! Rapaz, eram dois velhinhos bem magros e pareciam meio embriagados. Pensei: que risco eles podem oferecer.

O PC mandou: - Encosta na parede e levanta a camisa! Apenas um levantou a blusa. O outro hesitou. Então o PC levou a mão à arma. E eu pensei: rapaz, esse cara está exagerando. Para que tudo isso com esse velho? E mandou levantar a camisa novamente, só que agora de forma mais firme: Levanta a blusa! O velho, que agora era suspeito, não levantava. Ficava parado nos olhando. Até que ele finalmente levantou vimos uma faca na sua cintura.

Para quem não sabe, faca mata tanto quanto arma de fogo. E para que você fique numa distância segura (para dar tempo de sacar e atirar), salvo engano, tem que estar de 7 metros ou mais afastado de quem está com a faca. Foi por isso que o PC levou a mão à arma, ele já tinha visto a faca, ele me disse depois.

O velho ficou parado nos olhando. Nós nos entreolhamos rapidamente. Fui em direção ao suspeito juntamente com o chefe da PC. Seguramos os braços e retiramos a faca da sua cintura antes que ele tivesse algum tempo de reagir. Ele não ofereceu nenhuma resistência. Perguntamos para que ele tinha aquela faca? Ele disse que um homem na idade dele precisa de proteção. Verificamos os antecedentes e não parecia ter nada. Mandamos para casa e apreendemos a faca. Continuamos nossas rondas.

Eu não tenho ideia de como o Policial Civil viu que ele estava com uma faca na cintura antes mesmo de ele levantar a camisa. Mas ainda bem que a intuição do cara estava afiada. Aprendi com isso que jamais devemos vacilar, independentemente da idade do abordado.

ps.: Esse texto ficou um pouco longo. Mas ainda tem mais história dessa eleição.

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segunda-feira, 4 de maio de 2020

Uma tarde de campana (vigilância) - não pense que é como nos filmes!

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Isto não é uma vigilância policial!!

Muitos filmes e séries policiais mostram a vigilância policial. Mas normalmente a ordem é: fiquem de olho nele. Como se fosse uma coisa simples, prática e tranquila de se fazer. Aí a dupla de policiais fica tomando café e comendo donuts até acontecer algum evento com o alvo, o que acontece rapidamente, quando eles partem para a ação. Quem dera fosse que nem nos filmes.

A vigilância policial da vida real é um fundamento bem cansativo normalmente. Dependendo das condições ambientais, você só aguenta poucas horas. Calor e frio extremos, principalmente, sugam demais a energia do combatente. E é muito comum, mas muito mesmo, uma vigilância durar algumas horas. Algumas vezes pode durar até dias, mas nesse caso as equipes precisam ir se revezando para poder ser eficiente e aguentar.

Eu ainda era recém empossado quando a equipe me chamou para fazer a vigilância da casa de um contumaz traficante da pequena cidade onde eu trabalhava. Tínhamos a informação de que ele mandaria drogas naquele dia para a capital do estado.

Lá na cidade do interior os vagabundos sabem quais são as viaturas policiais e conhecem também a maioria dos Policiais Federais. Por causa da quantidade de PFs de outras regiões, o perfil normalmente é muito diferente do pessoal regional. Então fica muito difícil se misturar. E, por isso, para fazer a vigilância de forma a não ser notado, você tem que ficar quase que escondido com a viatura, ou então bem de longe.

Por isso decidimos sair com uma viatura menos usada, porque assim a probabilidade de o traficante reconhecê-la era menor. Mas tinha um porém: o ar-condicionado estava com defeito. Aqui no Norte, para quem ainda não visitou, eu vou explicar: você não precisa de agasalho em nenhuma época do ano. E você sempre precisa do ar-condicionado. É item quase que obrigatório. Mas, no nosso caso, era a única opção. Então fomos no calor mesmo. Empolgado e novinho, pensei: esse calorzinho não derruba ninguém não. O tempo me provaria quanto enganado eu estava.

Quando chegamos ao local que faríamos a vigilância, todos já estavam pingando de suor. No caminho, com o carro em movimento, tinha pelo menos o vento que entrava da janela para ajudar a refrescar. Quando paramos o carro, nem isso tinha. Ainda, por cima, não podíamos deixar os vidros escancarados, já que era importante o alvo ou seus olheiros pensarem que não havia ninguém no carro (aqui grande parte da frota de veículos tem vidros escuros por causa do calor, e normalmente o Detran não cobra tanto a legislação que trata dessa parte). Ou seja, vidros quase que 100% fechados.

Eu já estava quase pedindo arrego, e só tinham se passado uns 50 minutos. Mermão, estava muito quente. Mas como era novinho, fiquei na minha. Na viatura comigo tinham mais 2 novinhos e um antigo, mais experiente, que era do concurso anterior. Eu que não ia ser o novinho a mostrar que estava quase morrendo. Eu desmaio aqui, mas não falo que tô morrendo, não vou ser eu o novinho que vai estragar a vigilância, não preciso dessa fama, pensei, com o que me restava da minha consciência!

Nós fomos fazer essa vigilância pela parte da tarde, ou seja, já tínhamos passado a manhã fazendo os trabalhos rotineiros da delegacia, então não estávamos zerados. Mas ninguém estava esgotado também. Era o cansaço normal do dia (só um adendo explicativo mesmo).

Ficamos mais uns 40 minutos derretendo lá, aí foi quando o antigo resolveu ligar para a base para saber se eles tinham mais alguma informação, ou se poderíamos voltar. A base falou: segura mais 20 minutos aí, para desencargo de consciência. Nessa hora eu estava torcendo demais para a base falar: Pessoal, pode voltar! Mias 20 minutos eu achei que a morte era certa.

Mas, por incrível que pareça, foi o mais antigo que falou: pessoal, só mais esses 20 minutos tá, estou no meu limite. Aí a equipe toda concordou rapidamente. Foi quando eu vi que estava todo mundo na merda já. E eu achando que só eu que tava sofrendo. Passaram os 20 minutos, nada aconteceu. Abrimos os vidros para tentar não morrer e voltamos para a delegacia. (A vigilância não foi em vão, antes que perguntem, deu frutos).

E foi assim uma das minhas primeiras experiências sofrendo fazendo vigilância. Descobrindo na prática como funciona e quão sacrificante é. Esse tipo de coisa só entende quem já passou. Então, a galera que está estudando aí, não pense que Polícia Federal é só pão e água fresca não. Tem muito trabalho árduo, cansativo e perigoso. Bem diferente do glamour dos filmes e seriados.

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