terça-feira, 26 de maio de 2015

Drogas, PRF não é só trânsito

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E finalmente eu achei droga em uma abordagem. Na BR onde estou lotado a quantidade de drogas que passa é mínima, se comparado com BRs do sul e sudeste. Por isso que eu devo ter demorado tanto para achar. Será? Posso também não estar procurando direito. Vai saber, né? O que importa é que chegou o dia.

Estávamos eu e minha equipe (entenda eu e mais um parceiro) na UOP (antigo posto - mudou de nome mas é a mesma coisa) quando passou um velho conhecido nosso e informou: estão vendo aquele cara ali? Ele está indo buscar. Na volta, abordem que ele estará com drogas.

Foi o suficiente para a nossa adrenalina subir e a emoção de ser policial bater na porta novamente. Finalmente algo que não seja trânsito. O meliante estava indo a pé e, por isso, abordá-lo seria fácil demais, se ele também voltasse a pé. O nosso informante garantiu que ele voltaria a pé. Nem de carona, nem dirigindo: a pé!

Teríamos que ficar atentos. Terminamos o que estávamos fazendo e ficamos de campana. Sabe aqueles filmes de polícia que os dois policiais ficam na viatura esperando a ação acontecer, tomando café e comendo donuts? Pois é, tirando o donuts, foi assim que fizemos.

Nossa esperança era achar várias trouxinhas, prontas para venda. Pensamos que o meliante abasteceria o vilarejo próximo à UOP. Notícia no jornal local e tudo que tínhamos direito. Isso então valeria todo o tempo esperando. E, umas 2h depois, lá vem ele, andando. Ele e mais um outro.

Saímos da viatura e abordamos. Boa tarde, documentos por favor. - Não temos, falaram eles (porque mala que é mala, não anda com documentos, certo?). E começou a chover. Ordeno: vamos para dentro do posto. 

Lá dentro da sala da justiça: Nomes, CPF, nome das mães e datas de nascimento, escrevam tudo isso no papel aí, mandamos! Porém não encontramos nada nos sistemas. Nenhum mandado de prisão, nem uma investigação. Os dois limpos. Porém o meliante suspeito estava deveras nervoso. Gaguejava e pensava para responder às nossas perguntas. Sabe quando você pergunta e a pessoa fala "ã" antes de responder, para ganhar tempo e pensar. Assim estava ele.

Abrindo um parênteses aqui: Eu também estava nervoso. Não estou acostumado a ter que tratar pessoas de forma rispida. Tipo, é diferente. No meu antigo emprego nem pensava nisso. Fechando o parênteses.

- PRF do norte (fala o parceiro): leva o amigo (do mala) lá para fora que eu vou revistar esse aqui. Assim fizemos. Enquanto eu entrevistava o amigo, o outro PRF entrevistava o meliante e o revistava. E, de repente, ele me chama: entra aqui. Entramos. E o outro PRF pergunta do mala: o que é isso aqui (vejo que meu parceiro segurava um papel já aberto com algo desconhecido dentro)? - É fumo, responde o mala. - Que fumo o que, diz logo o que é! - É maconha com cocaína, responde. Eu pergunto: mel? E ele: sim. - Beleza, senta lá.

 E não é que o cidadão estava mesmo com as drogas! Porém, meus amigos, era meia cabeça de mel (maconha com pasta de cocaína) para consumo. E ele já tinha fumado uma parte. O amigo estava limpo. Mas ambos confessaram serem usuários.

Chegamos a conclusão que valeu a experiência, mas não o tempo perdido. Era um pobre coitado viciado, e não um traficante. Pelo menos não pareceu um. E voltamos à nossa rotina desiludidos por não termos pegado o cara que abastecia a vila, se é que ele existe.

ps.: Claro que fizemos mil perguntas e tentamos localizar quem vende e tudo mais. Mas isso é outra história! :)

terça-feira, 19 de maio de 2015

Uma emoção a mais e nada mais!

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E estávamos eu e minha equipe no posto (entenda eu e mais um), quando resolvemos fazer umas abordagens noturnas bem em frente ao próprio posto da PRF. Tentar pegar uns malas e uns caminhões que aguardam a calada da noite para poderem passar irregulares, com muamba ou com madeira ilegal.

Quando veio em minha direção uma caminhonete branca, do tipo de luxo. Mandei parar e, para a minha surpresa, ela não reduziu a velocidade. Já me deixou muito apreensivo. Então, quando eu já estava me preparando para correr e pegar a viatura para um acompanhamento tático super emocionante, a caminhonete reduz bruscamente e para quase em cima de mim.

Porém, ao vê-la parando, eu mandei entrar no recuo em frente ao posto. Ela permaneceu parada e, logo em seguida, começou a dar ré. Nessa hora a adrenalina foi ao topo da cabeça. Senti o coração bater, e forte (normalmente não sentimos ele batendo, certo?)!. Levei a mão a arma e preparei-me para gritar pelo colega (que estava abordando outro veículo). Pensei: agora vai!

Quando mais que de repente, o veículo dá sinal e entra no recuo do posto, abre todas as janelas e acende a luz interna. Cinco pastores se identificam e, como se nada tivesse acontecido, me entregam os documentos.

Sério, como pode? Os caras totalmente sem noção. Como que em frente a um comando da polícia eles agem dessa forma? Mal passa pela cabeça deles que por muito pouco eles não tomaram um tiro! (Tá, tô exagerando, mas quase saquei a arma e mandei sairem com a mão na cabeça, isso eu juro que é verdade).

Bem, tudo certo com os documentos. Podem seguir viagem. E tudo voltou ao normal.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Não, a vida policial não são só emoções!

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Na academia de polícia vocês precisam ver. TODOS os alunos, ou quase todos, querem ir pra guerra. Eu era assim também. A aula de tiro é a mais esperada e as aulas práticas de deslocamento tático em terreno e as de táticas de abordagem são vibrantes. Já as aulas de trânsito e leis ambientais, fiscais e outras e tais, são as entediantes.

Porém, na pista, você utilizará mais as leis que o resto todo. Há policiais que tem 30 anos de carreira e nunca sequer precisaram sacar a arma. Eu já estou a 2 meses e, apesar de abrodar muita gente, e prender algumas pessoas, não precisei nem sacar as algemas! A arma então, nem se fala. Só fico sacando para não perder a prática. O mais emocionante que participei foi um acompanhamento tático, que nem foi tão tático assim.

Há muito trabalho. Cansativo. Plantão de 24h não é moleza. Ficar no sol do norte o dia todo cansa demais. Essa é a emoção diária. Vez ou outra um usuário mais arrediu, mais enérgico. Mas basta você levantar um pouco a voz que tudo se acalma, sem briga, sem desacato. Todos eles contam histórias para não serem autuados. Algumas a gente nem escuta, outras a gente finge que acredita! Disse um colega: "se formos acreditar em todas as histórias que nos contam, era melhor fechar o posto e ir pra casa.

A gente aprende, com uma breve experiência, que levar gente para a delegacia dá muito trabalho. Você não quer levar alguém só porque falou alto com você. Não vale o esforço. Eles não prendem nem traficante com 10kg de pó, vão prender alguém por desacato? Dá um chega-pra-lá no cara e pronto. Olha o carro dele todo, cada detalhe e aplica 10 multas. Apreende o carro e deixa ele a pé. Existem outras formas mais legais e eficientes de se punir alguém. Afinal, o atendimento é a gosto do freguês.

Mas descobri outro tipo de emoção, que é ver a fiscalização dando certo. Você vê o usuário mudar o comportamento. Isso é legal demais de se ver. Você aprende a entrevistar. Percebe quando é mentira. Isso só vem com a experiência.

Eu realmente espero nunca precisar usar minha arma. Porque quando se pensa em usar a arma, só se imagina a munição indo né. Mas e o outro cara atirando de volta, e a munição vindo, já imaginou? É esse tipo de emoção que você quer? Eu é que não quero.