domingo, 5 de fevereiro de 2017

Mais uma missão contra o tráfico de drogas!

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Informação passada pela inteligência: traficantes vão fazer uma entrega numa fazenda X, de 40 quilos de cocaína/ pasta base. Objetivo da missão: Interceptar a droga e o comprador com o dinheiro, carro e tudo que puder mais. Busca e apreensão caso dê o flagrante.

E foi assim que começou uma das missões mais legais que já participei. Foram divididas uma equipe de vigilância e uma equipe de assalto. Eu fiquei com um dos rádios da equipe de vigilância.

Chegamos de carro a alguns quilômetros do local onde os compradores iriam buscar a droga. O restante iríamos a pé pelo meio do mato. Estava chuviscando. Isso é ruim pela sensação de ficar todo o tempo molhado. Mas é bom para chegarmos mais perto do alvo sem sermos notados, já que o mato molhado não estala e o barulho da chuva confunde quem tenta ouvir alguém se aproximando.

O local era uma fazenda no meio do nada. Cercada de mato e estrada de terra. Tinha uma casinha pequena no lugar, onde se acreditava estar o vendedor da droga e a droga. A inteligência nos passava pelo rádio as ligações em tempo real feitas pelo comprador com o vendedor.

O rádio também servia para comunicar com a equipe de assalto e avisá-los quando seria a hora de agir. Porém, chegamos de tardezinha no local. Ainda muito iluminado para chegarmos perto. A equipe de vigilância tentaria chegar o mais perto possível. Perto o suficiente para tentar ouvir a conversa dos traficantes. Para isso teríamos que aguardar a noite cair. E assim fizemos. Avisei no rádio: pessoal, não tem como chegar mais perto de dia. Vamos aguardar a noite para aproximar bem. Tivemos que esperar uns 40 minutos.

Ao cair da noite, começamos a nos mover novamente. Rastejando no mato alto, com todo o cuidado. O rádio ia no volume mínimo para que não fôssemos descobertos. Até a luz piscante do rádio eu tinha que tampar com o dedo para não nos denunciar.

Atravessamos um ramal (pequena estrada de barro) com todo cuidado, pois ali poderiam nos ver fácil, já que estaríamos momentaneamente sem a proteção do mato. Chegamos perto da cerca da fazenda, bem próximo a casinha. Podíamos ouvir as ligações do traficante com o comprador, que depois nos era passada pela inteligência. Mas ouvíamos em primeira mão, antes da inteligência nos passar, e começamos a manter a equipe de assalto atualizada.

Nessa hora temos que segurar a ansiedade, pois poderíamos perder tudo caso fôssemos precipitados. Tínhamos que esperar a droga e o comprador estarem juntos com os traficantes.

Nós estávamos parados bem perto de uma estrada a qual nem eu nem a equipe tínhamos visto. E foi um vacilo que quase nos custou a missão. Num certo momento o traficante mandou o outro pegar alguma coisa no fundo da fazenda. Chamá-lo-ei de Bilu. Bilu foi buscar algo e saiu caminhando na nossa direção. Foi quando eu percebi o quão próximo dessa estrada nós estávamos. Porque ele veio quase pisar na gente. Abaixamos as cabeças e torcemos para que ele não nos visse. Passou a menos de 1 metro de distância. Coração batendo na garganta. Bilu foi e voltou, mas não nos viu! Essa foi por pouco. Por muito pouco.

De repente começamos a ouvir barulho de carros se aproximando. Era a compradora. Chegou fazendo muito barulho, podíamos ouvir claramente o que ela queria: A cocaína. Nessa hora a equipe de assalto falou no rádio: vamos entrar! Pude perceber que eles também estavam bem próximos e ouviram a conversa, ou ela falou alto demais.

Eu falei pra equipe: segura, não sabemos se o traficante já pegou a droga escondida. Eles me escutaram e seguraram. Até que o traficante anunciou que estava com a cocaína em mãos, e perguntou para a compradora: - cadê o dinheiro? A compradora foi buscar no carro. E, nessa hora, antes mesmo da equipe de vigilância gritar para atacar, a equipe de assalto saiu do mato gritando: Polícia Federal, ninguém se mexe!

Pegamos a droga, o dinheiro, e recebemos muitos parabéns dos professores que estavam coordenando o exercício. Porque na ANP você também pratica como se fosse real. E foi bom demais. E percebemos que é muito mais tempo de preparação que de ação.

ps.: Sugestão de textos são sempre bem vindas.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Policial na cadeia, mas bandido solto

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Uma coisa que me deixa muito triste é ver colega sendo preso por agir como policial. Por agir como o treinamento mandou agir. A última foi o PRF que, para evitar que uma Hilux com o motorista bêbado prosseguisse viagem, no Mato Grosso do Sul, acabou por matar o motorista, em legítima defesa, após ter sido vítima de tentativa de homicídio. Sim, eu acredito na versão do colega PRF.

Vamos considerar as contradições nas versões e para quem devemos dar créditos. É a palavra de um Policial Rodoviário Federal, concursado e de reputação ilibada contra 2 ocupantes do carro que estavam bêbados (eram 3, mas um não tinha condição de contar a história, né!). O que a imprensa leva em consideração? Aquilo que vende. A notícia veiculada foi: Policial mata empresário em briga de trânsito. Ponto final.

Os promotores de justiça nem querem saber da verdade, querem fazer pontos com prisões e acalentar o clamor da população incitado pela notícia midiática, no mínimo, duvidosa. Pedem a cabeça do policial para o juiz. O juiz, que em primeiro momento havia dado crédito para a versão do policial, volta atrás e manda prendê-lo preventivamente. Ou seja, um policial, agindo como policial, está, agora, preso.

Vamos supor também que se prove que a versão do PRF é a verdadeira: ele já gastou pelo menos R$ 50 mil com advogados, ficou preso e a mídia já o condenou. Esse dinheiro, a reputação e a tranquilidade perdida ele não terá de volta. Sendo que ele não fugiu da cena do ocorrido. Fez tudo direitinho. Qual é a ameaça que esse policial de passado ilibado oferece à sociedade? Ou seja, mesmo ele provando que fez tudo certo, sempre, no caso do policial, se tem muito a perder.

Agora vejam essa notícia: Suspeitos detidos com fuzil, pistola e maconha no Morro da Coroa são soltos em audiência de custódia. Os bandidos foram soltos porque o flagrante foi considerado frágil para a juíza. Cadê os promotores ávidos por sangue para pedir a preventiva desses caras. Será que uns suspeitos detidos com fuzil não são ameaça à sociedade, mas o PRF, exercendo seu trabalho, o é?

A polícia, por ter sido truculenta por tanto tempo, tem sua parcela de culpa. Mas está na hora de começarmos a dar, pelo menos, algum crédito para as ações policiais. A polícia tem se reciclado e melhorado a cada dia. Se os homens e mulheres que trabalham nessas forças começarem a deixar de agir com medo de serem presos e perderem seus trabalhos, meu amigo, o batman não vai dar conta.

E a pergunta que o juiz ou os promotores do caso deveriam se fazer é: por que um PRF treinado, sem nenhum antecedente de abuso de autoridade ou truculência mataria por uma briga no transito? Por que dar 100% de crédito para os bêbados? Por que ele ligaria para o 190 antes de efetuar os disparos e depois ainda esperaria a PM chegar? Se ele realmente quisesse matar e fugir, teria feito tudo isso? Se a resposta for não, então, na minha opinião, a atitude do juiz e dos promotores, assim como a notícia da imprensa, é, no mínimo, questionável, não?