segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Sofrimentos cômicos das operações policiais - PF

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Posição para dormir!
Nem só de perrengue vive um Policial Federal. Apesar de algumas missões serem bem sugadas, eu sempre procuro me divertir, já que eu sei que aquela condição totalmente escrota não é para sempre. E o que eu faço é tentar não morrer e rir um pouco. Um sofrimento cômico.

Como sempre, chegou uma ordem de missão. Fomos convocados obrigatoriamente para uma missão num interior ruim. Muito ruim. Lugar quente, sujo e feio. Há muitos assim no nosso norte. Locais esquecidos pelo poder público. E essas missões para esses lugares quase ninguém quer ir. A diária não vale a pena, e sempre há muita ralação e muita falta de conforto. Além de longas viagem por estradas esburacadas e de barro.

Por causa que a cidade era bem pequena, uma grande quantidade de viaturas, mesmo muitas sendo descaracterizadas, chamaria atenção, deixando os criminosos mais alertas ou até mesmo fazendo com que fugissem da cidade. Então usou-se uma mentirinha besta para podermos passar razoavelmente despercebidos. E uma das condições para que não chamássemos muita atenção era não lotar os hotéis, ou seja, nada de reservar nem ir dormir em hotel nenhum.

E vamos dormir onde então? Adivinhem: num quartel. Os homens num alojamento para recrutas. As mulheres no alojamento para oficiais. Galera, vou explicar para vocês a diferença de um alojamento para o outro. Um é praticamente um hotel 4 estrelas. O outro é o porão da casa da amiga da sua avó. Só que limpo. Tivemos que levar a roupa de cama, aumentando ainda mais o volume das malas.

Vamos à descrição: as camas de beliches pareciam macas de hospital de tão pequenas. Um beliche era tão perto do outro que para sair da cama de baixo tínhamos que ter cuidado para não bater a cabeça na cama de cima do beliche ao lado e mais cuidado ainda para não bater as costas na cama de cima do nosso beliche. Fazia uns 35 graus fácil ali dentro. Havia alguns ventiladores de teto, número claramente insuficiente para o contingente. Acho que tinham uns 10 ventiladores para 168 camas. 

O desespero acalorado fez com que grande maioria fosse tomar alguns banhos. O que gerou outro problema. Acabou a água. Porque como recruta só toma banho quando mandam e com tempo limitado, a água era suficiente. Mas para nós o banheiro era liberado, então a água não foi suficiente. A situação começou a ficar alarmante. Mas finalmente resolveram o problema da água, então fui tomar meu banho. 

Eu deixei para tomar banho já na véspera de dormir, tentando não ficar todo suado (Não deu certo). O banheiro era aqueles coletivos, onde você jamais pode deixar cair o sabonete, sabe? Pois é. Para quem não está acostumado é muito estranho tomar banho assim.

Voltando para a cama, consegui me arrumar para dormir de forma bem precária, com medo de cair. No beliche tinha que caber eu, meu celular e minha arma. A arma eu mandei pra dentro da mochila, sem condições de ficar com ela ali. Fui tentar me distrair na internet e, não funcionava. Muita gente usando no mesmo lugar uma internet precária. O jeito foi tentar dormir.

O calor era tanto que, se você fosse dormir encostando uma parte sua do corpo em você mesmo, escorria suor entre as partes "encostantes", tipo quando você é gordo e sua nas dobrinhas? Pois é, mas sem ser gordo e suando onde a pele encostava na pele. Então o jeito era dormir tipo um lego (imagem da postagem). E acordar de 20 em 20 minutos para poder desgrudar do lençol e mudar para uma área seca da cama.

Vocês pensem aí, uns 160 homens dormindo no mesmo alojamento. Haviam barulhos estranhos saindo de alguns corpos. Porque pelo cheiro deveriam estar mortos a alguns dias ali. Não era possível não.

O alvorecer estava marcado para 4h da manhã. Porém alguns "gente boa" acordaram por volta das 2h30 e começaram a conversar. Eu que já não conseguia nem dormir direito, acordei e não dormi mais. O jeito era ficar quieto para tentar permanecer suando o mínimo possível. 

Num certo momento da noite quase peguei a chave de uma das viaturas e fui para dentro para dormir no ar-condicionado. O outro dia seria sugado. Essas operações exigem muito. Porque acordamos na madrugada, e não temos hora para acabar. Essa mesmo foi acabar por volta de 4h da tarde.

Nesse momento do fim da operação eu já tinha reservado hotel para a próxima noite. Não ficaria no alojamento militar por nada. Mas vou falar: se tava ruim para nós PFs, imagina para os recrutas os quais ocupamos seu alojamento. Eu conversei com o sargento que conseguiu o alojamento para nós, e ele informou, com um sorriso, que os recrutas, naquela noite, dormiram na grama aos redores do quartel. Pensam bem, nem foi tão ruim assim, hein!

Bem, após eu escrever esse relato para vocês, eu percebi que de verdade nem foi tão divertido. Foi mais pra se arrebentar mesmo. Porém quando lembro eu dou risada da situação. No final houve uma confraternização bem bacana.

ps.: Está atualmente tendo uma academia da PF para novos policiais. Aguardamos vocês com bastantes missões dessas, viu, meu queridos! Cheguem animados!