quinta-feira, 29 de março de 2018

Missão Policial Federal - drogas a caminho - Minha primeira vez!

Compartilhar no Facebook
Recebemos a informação de que estavam chegando na cidade dois veículos suspeitos, que viriam especialmente para pegar drogas e levar para o sul/sudeste/centro oeste do Brasil. A informação era quente. Veio recheada de detalhes, informando qual eram os veículos, seus motoristas e possíveis localizações.

Equipes foram para a rua tentar localizá-los. Esses traficantes/mulas tem basicamente o mesmo modus operandi. Então, conhecendo o comportamento padrão deles e a cidade onde estávamos, fomos em busca dos possíveis locais que eles poderiam estar. Não foi rápido nem fácil localizá-los. A cidade é relativamente grande. Mas logo chegou uma mensagem do chefe da equipe: a equipe Alfa encontrou um dos veículos suspeitos. Opa, pensei, começou a ficar bom!

Sobrou para a minha equipe. eu e o outro colega, acharmos o segundo veículo. A possível localização era um estacionamento rotativo da cidade. Tínhamos que passar despercebidos e, por isso, entramos totalmente descaracterizados. Viatura velada, e nossos trajes super operacionais: bermuda, chinelo e camiseta. Demos uma volta para procurar e, pelas características que nos foi informada, lá estava ele. Enviamos uma mensagem para o chefe da equipe: Segundo veículo localizado. Pensei: dessa vez vai!

Abre parenteses
Mas o que acontece quando se localiza os veículos, você me pergunta! Prende, mata, esfola? Nada disso, meu incauto leitor. Precisamos dar o bote na hora certa. Feito uma cobra Naja. Precisamos ser precisos ou podemos queimar a missão por completo. Quando damos o flagrante, a droga tem que estar com eles. Não adianta fazer tudo certo e dar o bote na hora errada. Sem drogas, sem flagrante, trabalho perdido. Logo, nada de ejaculação precoce. Segurar a ansiedade e dar prosseguimento ao plano.
Fecha parenteses

Após localizar ambos os veículos, fizemos uma vigilância longa. Com várias equipes se revesando para não perdê-los de vista. Vigilância essa que teve direito a filmagens e fotografias. Tudo na surdina, sem levantar suspeita dos suspeitos (hein??). Essa parte, apesar de muito cansativa, foi bem divertida. Esse tipo de trabalho faz você se sentir "O Agente". Tipo o 007. É muito empolgante (pelo menos para o novinho aqui). 

Para quem pensa que é um trabalho rápido, quem dera! Tivemos que ficar em vigilância uns 5 dias. Durante um desses dias conseguimos filmar um dos veículos e o possível dono da droga dentro, além de conseguir ver o encontro dos alvos. Tudo certo. Agora já tínhamos o vínculo que precisávamos para ligar um ao outro.

E, no sábado, umas 20h, eu estava me preparando para ir para uma festa, arrumado, recebo uma ligação: APF do Norte, todos na base às 22h30min (adeus festa). O comportamento dos alvos indicava que eles já tinham pegado a droga e iam partir naquela madrugada. Eles, os malas, preferem trabalhar em dias de finais de semana, feriados e madrugadas, pela diminuição natural da fiscalização. Mas dessa vez eles se enganaram. Nós estávamos à espreita.

Os alvos haviam se encontrado algumas vezes naquele dia e o nosso analista previu: é hoje que eles vão sair da cidade. O comportamento era típico. Já devem estar carregados, disse ele. Uma equipe fica vigiando e a outra aguarda na base o comando de sair.

Minha equipe ficou na base aguardando. E aguardamos. E aguardamos. E aguardamos mais um pouco. Quando estávamos todos quase desistindo. Uns tinham se jogado no sofá, outros já estavam desarrumados só aguardando a ordem de desmontar. Eu e um colega já tínhamos saído para comprar lanche para todos. No meio do caminho, já voltando com os lanches, o chefe liga: os traficantes saíram! Aí sim foi um corre-corre. Voltamos voando para a base, equipamos com colete, fuzil, algemas, gás de pimentas e narcotestes. Pegamos as viaturas, eram duas, e partimos atrás.

Abrirei um outro parenteses aqui:
Nesse dia eu achei que ia morrer. Não de confronto armado, mas de acidente de viatura. O colega estava puxando 170 km/h. Falamos: Sério velho, deixa a droga ir embora mas não mata a gente não, beleza? Obviamente não foram essas as palavras. Foi algo do tipo: diminui essa porra caralho, tá doido é? Vai matar todo mundo. Acho que foi mais ou menos assim.
Fecha o parenteses.

Nós conseguimos alcançar o primeiro veículo. Estávamos nas viaturas descaracterizada. Então passamos por ele, como se nada tivesse acontecendo, e fomos em frente. Queríamos pegar os dois. Apesar da corrida com a viatura, não conseguimos alcançar o segundo veículo. Ele tinha saído mais cedo para ir olhando se não tinha fiscalização policial e acabou escapando. Essa nossa viagem tentando alcançá-lo deve ter durado por volta de 1h30min. Como tínhamos certeza de que os entorpecentes estavam no primeiro carro, resolvemos abordá-lo e informar a delegacia da próxima cidade que o segundo carro  tinha conseguido escapar.

Já era dia quando abordamos e mandamos encostar. Bem dia, sol quente. O motorista encostou sem resistência. Até achamos que ele estava tranquilo demais. Solicitamos verificar o interior. Ele não se opôs. Mal colocamos a cabeça para dentro e já encontramos os pacotes. Narcoteste feito, positivo para cocaína. Mais de dez quilogramas de cloridrato de cocaína, conhecido também como pó.

Liguei para o chefe da equipe e disse: pegamos. Finalmente pegamos! Grampo (algemas) no motora. Agora tinha o caminho de volta todo ainda. A equipe estava bem cansada. Após o colega que estava dirigindo a viatura em que eu estava quase sair da estrada cochilando de tanto sono, eu perguntei: quer que eu leve. Ele fez que sim com a cabeça, encostou e eu assumi a direção o resto do caminho.

Foi minha primeira vez. Tive que tirar uma foto com os entorpecentes apreendidos. Terminamos a ocorrência por volta de meio dia. Tinham sido horas de espera e acompanhamento. Tudo que eu queria era minha cama. Nesse dia eu lembro de ter ficado bem satisfeito com meu trabalho e bem cansado também. Tomei um banho e dormi. Nem lembro se almocei antes de dormir. 

E foi assim minha primeira apreensão de entorpecentes na Polícia Federal.

ps.: Sugestão para postagens, por favor!
pss.: Se você gostou, comenta aí. Se não, comenta também.

31 comentários:

  1. Boa tarde guerreiro, muito bom ler seu relato. Estou me preparando para o próximo certame, e textos como esse sempre dão um gás. Minha única sugestão é sobre o layout do blog, cheguei até a pensar q estava desativado e por incrível q pareça o relato está quentinho postou hj.
    Sucesso!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fiquei um tempo sem escrever. Estou tentando voltar aos poucos. Fico feliz de ter gostado.
      Grande abraço.

      Excluir
  2. se puder fale sobrE o dia diA da ANP, DANDO DICAS OQUE FAZER O QUE NAO FAZER NA ANP!

    ResponderExcluir
  3. Muito bom. É muito difícil achar histórias do dia a dia de um policial federal, continue com essas histórias. Parabéns pelo blog

    ResponderExcluir
  4. Alo APF do NOrte, quanto aos horarios meio malucos, vocês compensam esses horários em outros dias, tipo banco de horas? Como funciona a questão de horario da PF. Abraços!

    ResponderExcluir
  5. Show de bola. Consegui me imaginar na história. Aguardando próximo concurso e lançamento de edital...

    ResponderExcluir
  6. Respostas
    1. Ahh... Estou estudando pra pf... E procurando no Google vi! Entrei e amei! Ler seus relatos dá um gás, anima demais...

      Excluir
    2. Bacana Dri.
      Aguardo boas notícias suas em breve hein!!
      Boa prova!!

      Excluir
  7. Só duas pergunta vocês recebem alguma coisa por esse trabalho extra? E vocês podem andar em alta velocidade colocar sirene em veículo descaracterizado? Valeu.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Recebemos banco de horas e um muito obrigado! Ehheheheh
      Andar em alta velocidade depende. Se tiver em ocorrência sim! A sirene pode sim. Mas tem que ser viatura.

      Excluir
  8. Po mano.. achei seu blog hoje.. e (nem acredito) tô aprovado em 165 agora pra APF, só esperando o TAF.. São 135 vagas, por isso ainda não comemorei.. mas a fé é grande!!! Espero ser seu colega ano que vem!! Abraço!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cara, se prepare bem. Não deixe o TAF vencer você. Isso é muuito muito triste.
      Se eu fosse você estaria comemorando muito. Eu não tenho nenhuma dúvida que você vai entrar entre os 100.
      Parabéns, guerreiro. Só quem estuda sabe a luta árdua que é entrar num concurso desses.
      Seja bem vindo a Polícia Federal!

      Excluir
    2. Obrigado, irmão! Me emocionei com as palavras!! O sonho tá muito perto de virar realidade!! Quanto ao TAF, to tranquilo, tudo certo por aqui. Sabe que sempre repetia pra mim enquanto estudava "vou ficar entre os 100".. esse era meu mantra diário e quero acreditar que isso vai acontecer. Minha fé é enorme!! Tamo junto, guerreiro!!! Brasil!

      Excluir
  9. Cara, seus textos são fodas! Obrigado por compartilhar essas experiências. Estou em 126 na lista de escrivão após o resultado do TAF (são 60 vagas na ampla), mas acreditando e lutando até o fim. Será uma honra ser teu colega de profissão. Grande abraço e sucesso!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. hahahah
      Valeu Matheus. Pena que nem posso escrever tudo que vivo aqui. Quem sabe quando aposentar, né?
      Mas fico feliz que tenha gente que goste, de verdade!!
      Venha firme nas demais etapas. E nunca desista do sonho!
      Mantenha-nos informados!
      Abração.

      Excluir
  10. Como você treinava para o TAF da PF , principalmente natação?

    ResponderExcluir
  11. Luiz, andes de ser aprovado eu ia pra academia regularmente. Mas depois da aprovação fiz treino específico. Contratei um professor de atletismo. Treinava mais corrida, que era meu ponto fraco. A natação eu paguei umas aulas. Mas eu já fazia o tempo bem tranquilo. Então só nadava uma vez por semana para garantir.

    Mas se quiser um conselho: Não poupe esforços nem grana para treinar para o TAF. É triste demais ser reprovado nessa etapa.

    Grande abraço.

    ResponderExcluir
  12. Massa demais,da mais vontade de estudar firme para chegar ai.Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Marcelo, e olha que tem coisas que eu nem posso escrever. Mas essa foi a melhor operação que eu participei.

      Excluir

Manda bala!