Tudo começou com o
briefing. Reunião numa sala pequena. 43 policiais equipados se
apertavam entre as cadeiras para saber qual seria o plano naquela
noite. Ocorrera um sequestro com cárcere privado. Já sabíamos onde
o cativeiro estavam e o objetivo era libertar os reféns.
Saímos até o ponto
de encontro de toda a tropa. O problema era que só alguns policiais
conheciam o terreno. Era noite de lua cheia. O caminho acidentado e
com a mata na altura dos joelhos. A caminhada era a tática, para não
fazer barulho, e o fuzil o G36.
Caminhar nessa
posição é desgastante. Eu já podia sentir as costas ardendo.
Várias vezes tivemos que nos abrigar e deitar. O inimigo podia
aparecer de qualquer posição. Tivemos que atravessar um pequeno
riacho. Sorte que estávamos preparados. Desequipamos, botamos toda a
roupa e equipamentos em um saco plástico para que chegassem do outro
lado secos.
Lembro de sair do
riacho, equipar, voltar a caminhar, com dor nas costas e os ombros
cansados. Já tinham se passado 5 horas do início de tudo. Olhei à
retaguarda, a procura de alguém que quisesse nos surpreender, e vi a
lua. Caramba, como ela estava bonita e vermelha. Até chamei pela colega e falei baixinho: que lua, hein!
Mas o acalento do
nosso lindo satélite natural não durou muito. Logo um colega
tropeçou num cordão que fez explodir uma bomba. Fiquei atordoado.
Meio cego, meio surdo. Desnorteado. Alguns companheiros feridos. Mas
tínhamos que prosseguir, o alvo estava perto.
De repente ouço
gritos lá da frente do pelotão: Polícia Federal, mãos na cabeça!!
Vários disparos e um silêncio. Bandido morto. Reféns liberados.
E, nessa hora, tudo
volta ao normal. E os professores nos parabenizam pelo exercício de
patrulha noturna bem sucedido. O riacho era a piscina. Mas juro que
parecia um riacho.
Já eram quase 22h.
O dia foi exaustivo. Cansados e sujos, jantamos e voltamos para
nossos alojamentos, tomar banho e dormir o mais rápido possível.
Afinal, amanhã tem mais aula.