Era um mês do meio do ano, quando chegou ao meu conhecimento, por e-mail, que eu ficaria no plantão da delegacia. Eu não sou muito fã de trabalhar no plantão, já que na delegacia onde eu estava é um trabalho bem monótono e o que você faz o dia todo é basicamente atendimento ao público. Tá que o serviço dura 24h e depois você tem 72h de descanso, mas eu achava bem chato, que nem esse tempo de descanso me motivava.
E como eu já disse ali em cima, basicamente atendimento ao público durante os dias de semana. E nos dias de final de semana não faz absolutamente nada, a não ser que tenha algum flagrante. Essa história aconteceu num dia de atendimento, mas não me recordo que dia da semana que foi, mas o plantão estava muito lotado, o que era bem raro de acontecer.
- Próximo, grito eu. E se aproxima uma senhora de uns 40 e poucos anos.
- Pois não, em que posso lhe ajudar?
- Quero fazer uma denúncia, ela diz.
- É sobre o que minha senhora?
- Um senhor que mora no prédio vizinho ao meu está mexendo comigo. E eu nunca fiz nada pra ele.
- Mas como ele mexe com a senhora, o que ele faz?
Indaguei pensando já que nem era caso de Polícia Federal. Mas que se ela contasse uma história dele maltratando dela iria já acionar a PC, sei lá, tentar resolver. O que não podia deixar continuar acontecendo era de um cara do nada fazer mal a uma senhora. Mas foi quando ela respondeu:
- Ele está jogando energia em mim! Olha como estou toda queimada. Ela mostrou o rosto com algumas marcas vermelhas, parecendo alguma alergia ou sei lá o que.
Aí relaxei, vi que não podia ser verdade, então resolvi entrar na onda, mesmo com um pouco de dó dela. E, mesmo se eu não entrasse no jogo, também não podia chegar pra ela e dizer que isso ela loucura dela, na cara, secamente! Então fui jogando o jogo como eu podia.
- E como que ele joga energia na senhora?
- Eu não sei - ela disse - só sei que todo dia ele faz isso, e eu nunca fiz nada para ele.
Nessa altura eu já não sabia mais o que fazer. Pedi para ela aguardar, entrei na sala do delegado que era mais próximo a mim, contei pra ele a história e perguntei o que fazer. Porque eu não sabia como falar para ela que não existia esse negócio de jogar energia assim, tipo o homem-elétrico. Mas o delegado falou: ela é uma senhora que tem problema mental, sempre vem aqui. Te vira lá com ela. Dá teu jeito.
Voltei eu para a recepção da delegacia e perguntei a ela:
- A senhora já foi ao médico ver se isso foi da energia mesmo?
- Ah, boa ideia, vou tentar ir no médico.
- Então, a senhora vai, vê lá com ele o que foi isso, e depois a senhora volta aqui.
- Tá bom. Vou lá então, porque o plantão tá cheio, né?
- Isso. Depois a senhora volta.
E ela saiu. E eu fiquei torcendo para que ela não voltasse nesse mês que eu estava de plantão.
ps.: Essa história foi mais longa que isso, mas faz tempo e eu não me recordo realmente dos detalhes. Sei que a senhora ela meio biruta mesmo. E depois descobri que ela ia direto lá acusar o cidadão do prédio ao lado dizendo que ele jogava energia nela.
pps.: A história não é emocionante, mas nem só de emoção nós nos alimentamos, certo?
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