Estávamos eu e minha equipe (entenda eu e mais um parceiro) na UOP (antigo posto - mudou de nome mas é a mesma coisa) quando passou um velho conhecido nosso e informou: estão vendo aquele cara ali? Ele está indo buscar. Na volta, abordem que ele estará com drogas.
Foi o suficiente para a nossa adrenalina subir e a emoção de ser policial bater na porta novamente. Finalmente algo que não seja trânsito. O meliante estava indo a pé e, por isso, abordá-lo seria fácil demais, se ele também voltasse a pé. O nosso informante garantiu que ele voltaria a pé. Nem de carona, nem dirigindo: a pé!
Teríamos que ficar atentos. Terminamos o que estávamos fazendo e ficamos de campana. Sabe aqueles filmes de polícia que os dois policiais ficam na viatura esperando a ação acontecer, tomando café e comendo donuts? Pois é, tirando o donuts, foi assim que fizemos.
Nossa esperança era achar várias trouxinhas, prontas para venda. Pensamos que o meliante abasteceria o vilarejo próximo à UOP. Notícia no jornal local e tudo que tínhamos direito. Isso então valeria todo o tempo esperando. E, umas 2h depois, lá vem ele, andando. Ele e mais um outro.
Saímos da viatura e abordamos. Boa tarde, documentos por favor. - Não temos, falaram eles (porque mala que é mala, não anda com documentos, certo?). E começou a chover. Ordeno: vamos para dentro do posto.
Lá dentro da sala da justiça: Nomes, CPF, nome das mães e datas de nascimento, escrevam tudo isso no papel aí, mandamos! Porém não encontramos nada nos sistemas. Nenhum mandado de prisão, nem uma investigação. Os dois limpos. Porém o meliante suspeito estava deveras nervoso. Gaguejava e pensava para responder às nossas perguntas. Sabe quando você pergunta e a pessoa fala "ã" antes de responder, para ganhar tempo e pensar. Assim estava ele.
Abrindo um parênteses aqui: Eu também estava nervoso. Não estou acostumado a ter que tratar pessoas de forma rispida. Tipo, é diferente. No meu antigo emprego nem pensava nisso. Fechando o parênteses.
- PRF do norte (fala o parceiro): leva o amigo (do mala) lá para fora que eu vou revistar esse aqui. Assim fizemos. Enquanto eu entrevistava o amigo, o outro PRF entrevistava o meliante e o revistava. E, de repente, ele me chama: entra aqui. Entramos. E o outro PRF pergunta do mala: o que é isso aqui (vejo que meu parceiro segurava um papel já aberto com algo desconhecido dentro)? - É fumo, responde o mala. - Que fumo o que, diz logo o que é! - É maconha com cocaína, responde. Eu pergunto: mel? E ele: sim. - Beleza, senta lá.
E não é que o cidadão estava mesmo com as drogas! Porém, meus amigos, era meia cabeça de mel (maconha com pasta de cocaína) para consumo. E ele já tinha fumado uma parte. O amigo estava limpo. Mas ambos confessaram serem usuários.
Chegamos a conclusão que valeu a experiência, mas não o tempo perdido. Era um pobre coitado viciado, e não um traficante. Pelo menos não pareceu um. E voltamos à nossa rotina desiludidos por não termos pegado o cara que abastecia a vila, se é que ele existe.
ps.: Claro que fizemos mil perguntas e tentamos localizar quem vende e tudo mais. Mas isso é outra história! :)