O policial rodoviário federal Alexsandro Lamarck Duarte Oliveira faleceu em um acidente de trânsito registrado por volta das 15h deste sábado na altura do km 243 da BR-290, em Eldorado do Sul. |
Quando eu comecei a estudar para o concurso da Polícia Federal, muito pouco eu entendia dos perigos inerentes à profissão policial. Eu só lembrava das coisas boas: distintivo e operações policiais eram o sonho. Ter a moral de agir em situações que só em dizer "Polícia Federal" já resolveria, também era um sonho.
Porém ser policial não são só sonhos. Existem os pesadelos também. E eles são duros e cobram seu preço. E a gente, quando passa nesses concursos e começa a conhecer muitos policiais, começa também a saber de tudo, ou quase tudo, que acontece no meio policial pelo Brasil afora. Ainda mais com o artifício do Whatsapp (zapzap para os íntimos), que faz com que as notícias corram quase da velocidade da luz, com direito a fotos e vídeos dos acontecimentos quase que ao vivo!
O primeiro susto que levei foi quando um policial civil, aqui do meu estado, morreu baleado no peito durante uma operação não tão bem sucedida assim (tudo filmado). Prenderam os meliantes, mas houve uma baixa do lado amigo. Isso me fez começar a pensar muito a respeito do assunto "perigo de ser policial". Eu já havia passado nos concursos da PF e PRF, e sabia que assumir um dos dois seria questão de tempo. Ficar no meu emprego atual de escritório ou ir pra rua correr riscos?
Até então eu nada sabia da PRF. Não conhecia nenhum PRF e pensava que os "guardas" nem corriam tantos riscos. Ser PM e Civil que era perigoso, pois tratavam direto com a bandidagem. E PF nem se fala, muito raro morrer PF em operação, pensei.
E então vieram as demais etapas (pós prova objetiva) dos dois concursos (PF e PRF) e depois o curso de formação da PRF. Conheci muita gente de ambas as polícias. Fiz muitos amigos. Participo de muitos grupos do Whatsapp. E então as notícias boas e ruins começaram a chegar:
Durante o curso de formação da Rodoviária Federal ficamos sabendo que um PRF de 2012 havia perdido o braço em um acidente com viatura. Traficantes jogaram uma pedra na rodovia causando o acidente. Novinho.
Porém, só nessa semana que passou aconteceram vários incidentes com PRFs que me deixaram
1 - Um policial morto em acidente de viatura quando voltava de operação. Viatura aquaplanou, atravessou a via e deu de frente com um caminhão.
2 - Um caminhão, para empreender fuga, bateu na viatura, ferindo levemente um policial e lesionando a coluna do outro.
3 - Um instrutor da academia de polícia, ao abordar um carro, levou dois tiros: um no colete, outro no olho esquerdo. Está vivo por muita sorte, porém perdeu a visão do olho.
Três casos em menos de 7 dias. Fora um outro acidente ocorrido há mais ou menos um mês quando um policial morreu ao bater o caminhão da PRF em um outro que estava parado às margens da rodovia. Provavelmente dormiu ao volante voltando cansado para o posto após 24h de plantão. Digam-me se esses números não assustariam você!
Já nos diziam na academia: morre mais Policial Rodoviário Federal atropelado e de acidente de viatura do que de arma de fogo.
E será que mesmo assim vale a pena ser polícia? Correr esses riscos todos mesmo sem ter nenhum reconhecimento da sociedade vale realmente a pena? E, para responder a essas perguntas, eu faço outras: e eu vou fazer o que da minha vida, se ser policial é meu sonho e é pelo que eu acho que realmente vale a pena viver?
O melhor que podemos fazer como policiais é treinar, treinar e treinar. Tentar ser o melhor que se pode e melhorar sempre. Não poupar esforços para que nenhum tipo de incidente aconteça. Já diziam os instrutores: não vá além dos seus limites, saiba perder.
Se com todos esses cuidados já há muitas baixas, imagina sem! Ainda ecoa na minha mente a voz de uma instrutora: "Senhores, saibam perder, saibam perder. Umas a gente perde, mas depois a gente ganha"! E de um outro instrutor: "Vai morrer aluno, assim o senhor vai morrer"!