PERGUNTAS FREQUENTES!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Pontuação Mínima no Concurso de Remoção por Lotação - Agente De Polícia Federal (2019)

Pessoal, finalmente as vagas da última remoção do cargo de Agente de Polícia Federal, com suas respectivas pontuações mínimas. Ou seja, essa planilha indica qual é o mínimo de pontos que você precisar ter acumulado para conseguir ser removido para determinada cidade.


Senhores, para saber quanto tempo, mais ou menos, os senhores irão para cada cidade, basta pegar a pontuação da cidade de lotação, multiplicá-la pelo número de dias do ano. Aí os senhores terão a pontuação por ano daquela cidade.

Depois basta dividir a pontuação da tabela acima pela pontuação anual da cidade de lotação. Pronto, terão o tempo que será necessário para alcançar tal pontuação. Vou dar um exemplo pra facilitar. 

Você está lotado em Tabatinga/AM. Pontuação: 4,5. Essa pontuação é contada por dia. Ou seja, em um ano serão 365 * 4,5 = 1.642,5 pontos. Se você quer ir para Recife/PE, que a pontuação mínima foi 14.032 pontos, divida 14.032 por 1.642,5. O resultado é 8,5 anos.

Ou seja, você precisa ficar 8,5 anos em Tabatinga para acumular a pontuação necessária para ir para Recife. 

Mas saibam que essa pontuação mínima muda a cada concurso de remoção. Essa volatilidade depende muito da quantidade de concursos e, principalmente, da quantidade de vagas oferecidas nesses concursos.

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pps.: Já comprou o livro? Basta clicar aqui!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Livro com Histórias Policiais Reais Inéditas contadas por um Agente de Polícia Federal!



Senhores, finalmente saiu o livro. São 79 páginas com contos policiais reais e muitas histórias inéditas. Eu espero de coração que gostem.

Para comprar basta clicar no Livro no canto superior direito, ou na imagem dessa postagem acima!

O livro custa só R$27,90. E para quem comprar até dia 04/12/2020, tem um cupom de 30% de desconto. Basta digitar na hora da compra: marcozero

Abaixo o sumário, para deixar os senhores ainda com mais vontade de ler.


Sumário:

Agradecimentos .................................................................................................... 3

O começo do sonho.............................................................................................. 4

A trajetória ............................................................................................................ 7

As Academias de Polícia .....................................................................................15

Por que eu troquei o cargo de Policial Rodoviário Federal pelo cargo de Agente de Polícia Federal ................................................................................................21

Primeiros dias de Trabalho ..................................................................................24

Primeiros dias na Polícia Rodoviária Federal: Quero PIsta! .............................24

Primeiros dias na Polícia Federal: Quero ação! ...............................................26

História 01: Tentativa de furto aos correios e a primeira vez que precisei me identificar como Agente                          de Polícia Federal. ..........................................................................31

História 02: Missão na Base Fluvial no Amazonas ...........................................35

História 03: Vamos pegar um traficante? ..........................................................41

História 04: Presos do colarinho branco e a realização da profissão ...............45

História 05: Uma fotografia muito cara .............................................................50

História 06: Fogo amigo – Nem tudo são flores na Polícia Federal ..................56

História 07: Reintegração de Posse em Área Federal .....................................62

História 08: Operações de Busca e Apreensão ................................................67

        Busca e apreensão na cadeia .......................................................................68

        Quando a curiosidade do vagabundo ajuda a polícia ....................................71

História 09: Um Político Vagabundo a Menos ..................................................74

Considerações Finais .......................................................................................79


sábado, 28 de novembro de 2020

O que faz um Papiloscopista de Polícia Federal? Eu descobri!


Senhores, conversei com um PPF - Papiloscopista de Polícia Federal. E ele me relatou o que um papiloscopista realmente faz. Eu brinquei muito no Instagram sobre esse assunto, mas abaixo eu vou deixar o relato dele, ipsis litteris. Segue:

A gente fica lotado nos NIDs das superintendências e algumas delegacias, não é incomum os papiloscopistas de delegacias estarem fazendo o trabalho tal e qual dos agentes, seja por escolha ou por não ter o aparato técnico mínimo pras funções do cargo (pericial e afins).

As demandas de rotina são perícias em locais de crime e veículos envolvendo correios e caixa econômica, mais comumente. Sempre buscando vestígios de identificação por impressão digital. Das impressões coletadas a gente alimenta um imenso banco de dados pelo qual é possível confrontar a impressão desconhecida do local de crime com uma já conhecida de um prontuário civil ou identificação criminal anterior, por exemplo.

Tem uma parte, que é a mais demandada por sinal, administrativa. O escriba envia as BICs e nós retornamos a Ficha de Antecedentes Criminais. É função dos papis administrar e alimentar o sistema de informações criminais (SINIC) e é do Sinic que são emitidas as FACs.

Outra atribuição é a emissão de passaportes e carteiras funcionais dos colegas ativos e dos aposentados;

Tem a parte de representação facial humana que é o retrato falado e projeção de envelhecimento;

Da para dividir o cargo em funções administrativas e técnico científicas nessa parte mais pericial.

Fora isso você está livre pra participar de missões na qualidade de EPA (Escrivão, Papiloscopista e Agente), sem distinção.

E sim, somos poucos. No mínimo 5 por superintendência. Às vezes mais, às vezes menos. Aqui na minha somos 8.

Além dessas atribuições que falei acima, tem a necropapiloscopia abrangendo identificação de cadáveres e vítimas de desastres como na barragem de Mariana e a queda do voo da chapecoense.

ps.: Galera, tá aí o relato. As atribuições são interessantes, e são atividades que ajudam demais no trabalho investigativo.

pps.: Não sei que porra é BICs nem FACs. Nem adianta perguntar nos comentários. Se os colegas que leem aqui souberem, favor comentar. NIDs também.

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domingo, 25 de outubro de 2020

Três histórias policiais curtas - PF e PRF

Primeira: A colega bruta!

Havia uma colega na PRF que tinha a fama de ser bruta. Quando eu tomei posse ela já tinha uns 6 meses de casa, e fiquei sabendo que alguns usuários que foram abordados por ela tinham indo na superintendência da PRF reclamar de sua brutalidade. Mas era o jeito dela. Se você conversasse com ela, era gente boa. Ela não era desonesta nem nada, só bruta no trato mesmo. Mas era boa de serviço.

Tirei um plantão com ela uma única vez, e nós precisamos sair do posto para atender uma ocorrência. Ela era a motorista, então foi dirigindo. Só que no meio do caminho tinha um carro parado na BR, com dois homens. Estavam a uns 2 quilômetros do posto da PRF de onde tínhamos saído.

Ela parou a viatura do lado e perguntou se eles estavam com algum problema. Os caras responderam que não, que só param pra urinar. Foi quando ela fez cara de capirota e soltou: precisava ser no meio da BR, porra! Eu tive que morder a língua para não rir.

Quando os caras foram embora, todos envergonhados, e nós tornamos para a nossa ocorrência, eu disse pra ela. Você é bruta hein! Meu deus do céu. Ela disse: todo mundo fala isso, estou começando a acreditar. Vida que segue.


Segunda: Escapando de um provável assalto.

Toda vez que chego para colocar o carro na garagem de casa, que tem um portão elétrico, eu fico atento aos movimentos da rua. Vejo se não vem carro ou moto, se não vem gente a pé ou se tem alguém por ali sem fazer nada, com atitude suspeita. Além disso, sempre paro o carro em uma posição que dê para arrancar caso perceba algum perigo.

Dessa vez cheguei em casa, parei o carro numa posição segura, olhei em volta. Nada suspeito, então cliquei no botão para abrir o portão. Quando o portão estava na metade, passou um carro por mim e parou a uns 20 metros a minha frente, no meio da rua. Na hora em que vi isso já cliquei de novo no controle do portão pra ele parar de abrir, ficando mais alerta ainda para a situação.

O carro começou a dar marcha ré. Nessa hora cliquei pro portão fechar, saquei a pistola e mirei na direção da porta do carona, que era a mais próxima de mim. Meu carro tinha os vidros escuros, então quem estava fora não podia me ver. Sentia o coração bater na garganta, tamanha adrenalina. E eu só pensava: se descer vai levar. Se descer, vai levar.

O portão fechou. O carro, do nada, parou de dar ré, já quase do meu lado, e foi embora. Até hoje não sei se eles notaram que eu tinha percebido a intenção deles, ou se era só alguém procurando um endereço. Mas confesso que foi tenso.


Terceira: Menina sozinha no embarque internacional.

Trabalhei na imigração do aeroporto por 5 meses, assim que fui lotado na Superintendência onde estou atualmente. Não era o que eu queria, mas fui cumprir minha missão da melhor forma possível. 

Não sei se é assim em todos, mas nesse aeroporto tem uma área quase que exclusiva para voos internacionais. E só abrimos esse setor quando estão chegando ou saindo esses voos. Durante o resto do dia o setor fica trancado. Nesse aeroporto os voos ocorriam somente na madrugada. Começavam por volta das 1h da manhã e terminavam lá pelas 5h.

Tínhamos acabado de atender o último voo do dia. O sol já começava a aparecer. Eu sai do atendimento para ir no alojamento buscar alguma coisa. Quando estava retornando, passando pela área internacional, que já estava toda trancada, vi uma menina, já adolescente, sentada num dos bancos.

Olhei mais de uma vez para crer, porque não era para ninguém estar ali. Como que ela entrou? Será que era uma assombração? Mas juntei coragem e fui lá com ela. Para minha alegria, não era um fantasma. Então perguntei dela como que ela tinha chegado ali. Ela respondeu que havia uma porta aberta e ela entrou. Alguém, provavelmente da equipe de limpeza ou companhia aérea, esqueceu uma porta aberta.

Se eu não a tivesse visto, ela perderia e voo e ficaria trancada até alguém aparecer. Chamei o responsável pelo embarque daquela passageira perdida e voltei tranquilo para o trabalho. Mais uma vida salva! hahaha

Por hoje é só, pessoal. Espero que tenham gostado das resenhas.

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quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Vagas 1° Lotação - Agente, Escrivão e Papiloscopista da PF na Academia Nacional de Polícia de 2020 - Polícia Federal

Muita gente me pergunta quais vagas que foram disponibilizadas na ANP, principalmente para saberem se conseguirão voltar para casa ou, pelo menos, para perto de casa. Na academia da Polícia Federal de 2015, quando fiz a ANP, eram 600 vagas. Então havia muito mais localidades como opção de primeira lotação que em 2020, que foram disponibilizadas somente 216 vagas para Agente de Polícia Federal. Lembrando que esses formandos fizeram a mesma prova dos que formaram em 2019. Essa é a segunda chamada.

As vagas de Agente da Polícia Federal da ANP de 2020, conforme me foram passadas pelos colegas. Talvez possa haver um ou outro erro, mas acredito que foi isso mesmo.

Cidade - Estado N° de vagas
Rio Branco - AC 15
Cruzeiro do Sul - AC 15
Epitaciolândia - AC 13
Manaus - AM 22
Tabatinga - AM 26
Amapá - AP 9
Oiapoque - AP 19
São Luís - MA 5
Imperatriz - MA 2
Corumbá - MS 12
Cuiabá - MT 10
Belém - PA 8
Altamira - PA
7
Santarém - PA
8
Marabá - PA 8
Redenção - PA 6
Guajará-mirim - RO 17
Boa Vista - RR 3
Pacaraima - RR 11


Vagas que foram disponibilizadas para Escrivão de Polícia Federal em 2020. Tem até vaga no RJ!

Cidade - EstadoN° de vagas
Rio Branco - AC7
Cruzeiro do Sul - AC6
Epitaciolândia - AC2
Manaus - AM4
Tabatinga - AM5
Oiapoque - AP2
Macapá - AP4
Corumbá - MS1
Ponta Porã - MS2
Cuiabá - MT3
Cáceres - MT1
Belém - PA7
Marabá - PA5
Santarém - PA1
Altamira - PA4
Redenção - PA1
Nova Iguaçu - RJ3
Porto Velho - RO2
Guajará-mirim - RO3
Boa Vista - RR4
Pacaraima - RR3
Palmas - TO1



Vagas que foram disponibilizadas para Papiloscopista de Polícia Federal em 2020. Só vaga de Superintendência!

Cidade - EstadoN° de vagas
Rio Branco - AC3
Manaus - AM4
Macapá - AP1
São Luís - MA2
Belém - PA4
Teresina - PI1
Palmas - TO2

Sejam todos bem vindos ao nosso norte, que é tão esquecido pelas autoridades. Tentem fazer a diferença. Cheguem de braços abertos para suas novas moradias, novinhos! 

Ps.: Pessoal, estou interagindo no Instagram também, sigam lá: @apfdonorte

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Por que eu troquei a PRF pela PF


Senhores, esse é um relato com a minha única e exclusiva opinião. Não é uma verdade absoluta. Escolher uma ou outra polícia vai depender da percepção de cada indivíduo. Depois não quero ninguém falando: o APF do Norte disse que a PRF é pior que a PF!

Eu, desde o início da minha vida de trabalho, nunca quis ser chefe. Meu primeiro trabalho foi como assistente administrativo em uma escola estadual na minha cidade. A diretora queria que eu fosse secretário, cargo que eu prontamente recusei, mesmo tendo a possibilidade de dobrar meu salário. Não tenho vocação para mandar/coordenar ninguém. 

Alguns podem falar: vai ser sempre um pau mandado. Mas a grande verdade é que independentemente da sua posição na hierarquia você sempre terá um chefe. Você pode ser Capitão do exército. Vai ser chefe. Mas vai ter o Major, seu chefe, mandando em você. Então sempre alguém vai mandar em você. O chefe da delegacia onde eu trabalhava respondia para o superintendente do estado. E esse respondia para o Diretor Geral da Polícia Federal. Que respondia para o Presidente da República. Que responde para nós, povo (pelo menos na teoria). Veja que é um ciclo que nunca termina. Então independentemente de onde você esteja, você terá um chefe. 

Falando sobre carreira única: na PRF você também tem chefe. E minha experiência não foi muito boa com a chefia. Mesmo eu sendo nativo da cidade onde era lotado, sem pretensão de ir embora, gostando muito do que eu fazia e fazendo da melhor forma possível, eu era preterido em tudo pelo chefe (Exemplos: eu nunca viajava, ficava nas piores UOPs – Unidade Operacional, antigamente chamada de Posto – , era o último a escolher férias). E como eu não tinha intenção de mudar de cidade/lotação, provável que esse cara seria meu chefe por muito tempo. Então você percebe que chefe ruim tem em todo lugar. Por isso não adianta falar que a PRF é melhor porque não tem chefe. Tem sim. E pode ser igual ou pior que muito delegado. 

Tendo as premissas “chefe” equivalentes, então vamos para as atribuições. Na PRF, a não ser que você trabalhe em algum setor administrativo, você vai trabalhar na BR. Esse é o seu trabalho: abordar veículos e fazer valer a lei. É muito bom o trabalho. É divertido. Você consegue fazer diferença naquele lugar onde atual. É possível ver o comportamento dos usuários mudando naquele trecho. Você pode se especializar em vários tipos de fiscalização. Mas, apesar de tudo isso, o trabalho é na BR, braçal, com muito calor ou frio, e no regime de 24h de serviço por 72h de descanso. 

Para chegar as 8h da manhã em uma das UOPs na qual trabalhava, eu tinha que acordar 5h da manhã. Chegava às 6h na Superintendência e deslocava com os demais colegas até o local na BR onde ficava a UOP. E no retorno para casa, no dia seguinte, saia 8h da manhã da UOP para chegar quase meio dia em casa, a volta demorava mais que a ida por causa do trânsito do horário. As 72h de folga podem até parecer muito, mas não é bem verdade. Veja que só com o deslocamento eu já perdia quase 7h somando a ida e a vinda. Com isso o descanso já cai para 65h, e ainda tem o sono que você não teve na noite que passou. Logo você chega em casa muito cansado. Vai querer dormir durante umas 6h pelo menos para tentar se recuperar. Já caiu para 59h de folga. 

Além disso, todos os seus amigos de fora da polícia trabalham em horários normais, então você perde confraternizações, aniversários, casamentos, etc. A coincidência é impressionante, as datas em que seus amigos vão comemorar algo caem sempre nos dias do seu plantão. Sendo assim eu descobri que o regime de plantão não era um regime que eu queria ficar para sempre. 

E, após todos esses “poréns” que relatei acima, o salário da Policia Federal é maior, funciona com regime de expediente e o trabalho é mais investigativo. Claro que eu pensei nisso tudo somente após ter passado pela Academia da PF (ANP). Até o dia em que fui tomar posse na PF eu ainda estava com muito medo de me arrepender, mas felizmente, isso não aconteceu. 

Desde quando eu entrei, eu perdi a conta de quantas vezes viajei a serviço. Um lugar mais dessemelhante que o outro. Conheci várias culturas e pessoas. Fiz amigo em muitos lugares. E apesar de a PRF ter viagens também, a quantidade é muito menor. Sei disso porque converso com os amigos que permaneceram lá. A maioria quase nunca viaja. 

Muitas pessoas me perguntam se eu me arrependo de ter trocado, e a resposta é: de jeito nenhum. Sinto saudades de algumas atividades da PRF, da organização, do relacionamento com os amigos. Mas onde estou agora estou mais feliz com o trabalho. Gosto das atribuições. 

Quando concurseiros me perguntam o que deveriam escolher, eu digo: foca no tipo de trabalho. Foca no que você quer fazer durante sua vida e esqueça as picuinhas e rixas. A não ser que um dia você queira ascender na carreira, aí você tem que pensar em um cargo de chefia. Agente, escrivão e papiloscopista da PF não são para você, definitivamente, se você ainda quer um dia ser chefe. 

Tenho amigos na PRF que não fariam a troca que eu fiz. Amam a liberdade de ação que tem, e até conseguiram cargos de chefia. Por isso que eu disse no começo, depende da percepção de cada um, e essa foi a minha percepção. 

Ps.: Como eu disse lá no início: MINHA exclusiva percepção sobre as duas instituições. Não é verdade absoluta e nenhuma é pior que a outra. Tudo depende dos objetivos que você tem para a sua vida. 

Pps.: Adicionem lá no instagram: @apfdonorte – lá posto um pouco mais dos retratos das aventuras. 

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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Drogas no Aeroporto - Nunca Duvide!


Quando mudei de cidade no início do ano de 2020, saindo de uma delegacia descentralizada no interior para uma superintendência na capital, assim que cheguei já fui trabalhar no aeroporto da cidade, no setor de imigração. Nesse setor, a principal atividade, é atender os voos internacionais que chegam e que saem, fazendo a imigração de centenas de passageiros todo dia. O regime de trabalho é 24/72h, ou seja, trabalha 24h e folga 72h.

Mas, além de fazer a imigração, nós também atendemos aos chamados das companhias aéreas e dos funcionários do aeroporto para problemas com passageiros de voos domésticos que já estão do lado AR. O lado AR é aquela parte restrita do aeroporto, onde só podem entrar funcionários credenciados e passageiros que passaram pelo Raio X e detector de metais, o que inclui a sala de embarque dos passageiros.

Fiquei por cinco meses trabalhando no aeroporto e ganhando muita experiência. Mas todos que acompanham o blog aqui sabem que é muito comum eu me dar mal. E nada melhor do que você se dar mal para ganhar mais experiência ainda. E foi a minha falta de experiência que me fez cometer o erro que contarei para vocês abaixo:

Estava eu na salinha da PF, aproveitando para descansar num horário sem voos internacionais, quando tocou o telefone. Era um APAC (Agente de Proteção da Aviação Civil) - são aquelas pessoas que ficam normalmente no raio x dos aeroportos - me avisando que tinha uma mala suspeita no Raio X. Foi a primeira vez que me chamaram por esse motivo. Foi logo no primeiro mês de trabalho.

Como eu vinha de um interior que pegar droga no aeroporto era coisa rara, achei que não seria nada de mais. Fui ao Raio X e pedi para passarem a mala novamente. A imagem da máquina mostrava muitos tabletes de algo que parecia ser orgânico. Mas é muito comum, aqui na região norte, você abrir uma mala dessas e estar cheia de farinha, por exemplo. A farinha daqui é uma das melhores, e o pessoal leva para todos os cantos do Brasil. Achei que poderia ser isso.

E quem é policial sabe, você jamais abre a mala do passageiro sem estar na presença dele. Isso para não existir nenhuma dúvida de que alguém que não seja o próprio passageiro possa ter colocado algo dentro. Então mandei chamá-lo pelo rádio, na frequência da companhia aérea, para que ele fosse lá comigo. Dessa forma poderíamos abrir sua mala em sua presença. E fiquei aguardando, e esse foi meu erro. Mas fiz isso por não acreditar que poderia ser entorpecentes mesmo. Coisa de novato num aeroporto de grande porte.

Até que o funcionário da companhia aérea manda uma resposta pelo rádio: achamos o dono, estamos levando-o aí. Aguardei mais 1 minutos e o funcionário fala no rádio novamente: o passageiro está andando rápido para o estacionamento, disse que esqueceu algo no carro. Aí ficou suspeito demais. O cara ia viajar e esqueceu algo no carro? Então perguntamos: onde vocês estão? Ele demorou para explicar, o aeroporto é grande, e ele não explicava direito. Saímos procurando, mas nos desencontramos. E ele novamente se comunica, estamos no estacionamento do piso inferior, o passageiro saiu correndo.

Puta que pariu. Saí correndo pra encontrar o funcionário da companhia, que me disse apontando: lá vai ele. O cara já estava uns 200 metros de distância, e aumentando. Saí correndo atrás, nessas horas me arrependo de não ser um corredor. O vagaba sumiu na minha frente. Corri um quilômetro atrás dele, mas não alcancei. Estava quase morrendo já. Liguei para o colega pegar a viatura e ir me buscar. Se eu voltasse andando era capaz de ter um infarto. E olha que não sou gordo nem despreparado, mas o pique foi insano. A vontade de pegar o dono da mala era grande.

O colega me buscou, e resgatou uns APACs que tinham corrido junto comigo. Os caras foram parceiros, que esse nem é o trabalho deles. Conversando no percurso com algumas testemunhas, elas disseram que um homem com a descrição que demos pegou carona em uma moto. Acreditamos que era o comparsa que o aguardava fora do aeroporto caso desse algo errado.

Ao voltar para a sala do raio X, chamei algumas testemunhas, inclusive o colega da PF, e abrimos a mala. Eram uns 20 tabletes embalados a vácuo. Parecia muito com pacotes de café, só que não. Saquei o canivete tático e abri um para poder averiguar. Era skunk puro. O cheiro é inconfundível. Logo a sala toda ficou fedendo. Levamos a mala para a salinha da PF e começamos a tentar descobrir quem era esse cara que correu.

Todos, ao fazerem o check-in ou despachar mala, devem apresentar um documento. E a funcionária que o atendeu, por sorte, anotou o número do documento. Muitos no intuito de não serem descobertos usam documentos falsos, então esse documento poderia não significar nada. Mas, ao consultar os sistemas, achei uma foto. Mostrei essa foto para funcionários que o atenderam e bingo, ele foi reconhecido. Ele não foi preso em flagrante, mas será preso depois. Essa galera não para e uma hora a gente pega.

E foi assim que eu aprendi que não se deve pedir para o passageiro ir até você. Você vai lá e traz ele pelo braço. Eles normalmente não correm quando é um policial que está no seu encalço. E o meu erro foi ter deixado um funcionário da companhia aérea conduzir um suspeito de tráfico de drogas.

Depois desse dia, durante esses meses trabalhando no aeroporto, eu recebi vários chamados iguais. Quase todo plantão tinha uma ocorrência dessas. E agora eu ia com sangue nos olhos. Ninguém mais correu. Sempre eu ia buscar os passageiros lá dentro da sala de embarque. Trazia eles bem quietinhos até sua mala, abria a mala na presença deles, exatamente como manda o figurino. Acostumei a ver suas caras fingindo espanto e dizendo que não sabiam que aquela droga estava ali dentro, depois suas caras de tristeza e choro por terem sido pegos.

E esse foi um dos meus aprendizados. Na polícia nós temos um ditado que diz: Só a dor gera compreensão. Claro que isso não é 100% verdade, mas que a dor ajuda na compreensão, com certeza ajuda.

ps.: Pessoal, quem ainda não segue, @apfdonorte no instagram. Lá eu consigo interagir mais e com maior frequência. Sigam lá!

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ppps.: Quantos aqui gostam da série Aeroportos?

domingo, 19 de julho de 2020

Um dia de merda: Histórias quando era PRF



Minha intenção ao escrever aqui nesse espaço é contar histórias de dentro da polícia. Coisas dos bastidores que muitas vezes a população em geral não fica sabendo. Normalmente o que a mídia mostra é o lado glamouroso da PF e PRF. Mostra o resultado das operações, como elas deram resultados e os figurões que foram presos. Quase nunca mostram o quanto o policial teve que suar e, até muitas vezes, se quebrar para conseguir um resultado. As pessoas acostumadas a ver a polícia sempre ganhando, podem falar: "O APF do Norte só se fode! Só conta as coisas que não deram certo". Conto esses causos porque para uma ação dar certo, houve muitas antes que deram errado. Mas chega de conversa mole, e vamos para mais uma vez que quase deu merda.

A UOP (posto da PRF) onde eu trabalhava ficava numa estrada que ligava a capital a uma cidadezinha do interior, um trecho de cento e poucos quilômetros. E nessa cidadezinha havia uma festa anual, quando eles sempre chamavam para alegrar a festa, de forma gratuita, na praça central, uma atração nacional famosa. Então o fluxo de carros aumentava demais nesse trecho. E, por isso, a PRF era obrigada a chamar Policiais Rodoviários das outras regionais para ajudar na fiscalização. 

Nessa UOP, nos dias normais, ficavam apenas 3 policiais no plantão. Na época dessa festa na cidadezinha, o efetivo era de uns 20 policiais por plantão. Eu nunca tinha visto tanto PRF junto. Além do efetivo extra vindo de fora, nós, que já éramos lotados lá, tínhamos que fazer plantões extras para conseguir dar conta da fiscalização de tamanho fluxo de veículos.

Para vocês terem uma ideia, chutando por baixo, o fluxo aumentava umas 50 vezes. Talvez até mais. E por causa do aumento do efetivo de policiais na UOP, a PRF, para garantir que ninguém ficasse sem ter o que comer, acabava providenciando o almoço e a janta, já que os quiosques que ficavam próximos não teriam condição de atender esse aumento no número de pedidos de almoço e janta. Nesse dia eu não pude almoçar a comida que a PRF forneceu, pois no horário eu estava longe, no trecho, fiscalizando. Então eu comi um lanche qualquer e vida que segue. 

Quando estava na hora da janta, a banda que era a atração da festa parou na UOP e pediu nossa ajuda (era uma banda famosa). Eles estavam indo de Van da capital para a cidadezinha, e o engarrafamento na entrada da cidadezinha era grande. Então eles perguntaram se era possível escoltá-los para que conseguissem chegar à praça central. O chefe perguntou quem gostaria de ir, e eu fui um dos que voluntariei. Nunca tinha feito esse tipo de trabalho, queria experimentar.

Se não tivéssemos feito essa escolta a eles, eles não teriam conseguido chegar. A cidade estava lotada, tanto de carro quanto de gente. Tivemos que ir abrindo caminho e segurando o fluxo para conseguir chegar até o local. A escolta demorou umas 3h ou mais. Só sei que quando chegamos de volta na UOP a janta estava fria e fora da geladeira desde o almoço (guardem essa informação). Quase todo mundo já tinha jantando. Esquentei a minha marmita no micro-ondas e mandei pra dentro. Estava morto de fome. Só tinha comido aquela besteirinha na hora almoço e mais nada.

O plantão tem duração, normalmente, de 24h, e nesses dias de festa e aumento de fluxo o descanso só é possível após tudo acalmar. Então, após a janta, continuamos a fiscalização na BR até a madrugada. Eu não lembro ao certo a hora, mas as coisas finalmente se acalmaram. E após frenética fiscalização, os policiais finalmente puderam começar a se recolher para um merecido descanso. Esse descanso nós chamamos de "quarto de hora". funciona assim: enquanto uns descansam os outros ficam acordados para qualquer eventualidade, e depois invertem-se os papéis.

Uma observação:

Antes que falem que dormir no plantão é muita folga, fiquem sabendo que se houver um acidente na BR, que pode ter acontecido a mais de 300km de distância, o PRF obrigatoriamente tem que ir atender. Se ele estiver exausto, por causa disso, há a chance de se envolver também em um acidente. Então, nada justifica ficar todo mundo acordado sem fazer nada. Melhor descansar e guardar energia para o momento adequado.

Fim da observação.

Como a UOP era pequena e não tinha espaço para todo mundo, então havia muitos policiais dormindo em colchonetes, em sacos de dormir e até mesmo dentro das viaturas. Uns na sala, outros nos alojamentos. Esse esforço é o que ninguém normalmente fica sabendo. Você está descansando no conforto da sua cama, enquanto tem gente que defende você e está dormindo mal, apertado e longe da família. A profissão está longe de ser só glamour.

Acordei do "quarto de hora" por volta das 6h da manhã. Consegui dormir quase nada. Era muita gente entrando e saindo, não conseguia relaxar. E, quando acordei, fui lavar o rosto e escovar os dentes. Só que ambos os banheiros da UOP estavam ocupados. É muito raro isso acontecer. Achei estranho. Então decidi ir no banheiro dos usuários da via. É um banheiro fora da UOP que qualquer um que esteja passando pode usar. Fica sempre aberto e, na medida do possível, limpo. Depois fui tomar um café para aguardar a rendição. O plantão acabava 8h da manhã.

Descobri, conversando com os colegas, que muitos haviam passado mal por causa da comida do dia anterior (lembram que tinha ficado fora da geladeira?). Passaram a madrugada vomitando ou no banheiro! Comecei a me preocupar. Até então não tinha sentido nada.

A rendição, nesse dia, não seria na própria UOP, como era de costume, seria feita no início da BR, por motivos de logística. Normalmente os colegas vão até a UOP e nos rendem. Nesse dia nós iríamos encontrá-los com as viaturas ostensivas e eles chegariam para nos render com as viaturas veladas (que não são identificadas e nem pintadas nas cores da polícia), trocaríamos de viaturas, e cada um seguiria para seu destino: eles para a UOP e nós para a Superintendência na capital. Só que desse ponto da troca até a superintendência era mais 1h e meia de trajeto, dependendo ainda do trânsito. E esse tempo de trajeto começou a me preocupar, já que eu acabara de sentir uma pontada na altura do intestino que me avisava: chegue logo num banheiro!

Cutuquei o colega e falei: mermão, acelera aí senão vai dar merda. E o colega começou a rir. Eu falei: é sério, porra, tô suando frio aqui. Quem já teve dor de barriga de comida estragada sabe do que eu estou falando. Aí ele me olhou sério e perguntou: tá nesse nível? Eu falei: sim. Então ele pisou fundo. Mas lembrem que eu falei que seria pelo menos mais 1h30min? Pois é, não ia dar tempo.

A floresta começou a ficar atraente. Fiquei pensando, entre uma cólica e outra, se eu deveria pedir pra ele parar ali mesmo, pra eu correr pro mato. Nessa hora a minha camisa, mesmo no ar-condicionado, já estava encharcada de suor. Foi então que vi um posto de gasolina de beira de estrada. Eu conhecia o posto, trabalhava naquele trecho a algum tempo, mas não sabia as condições do banheiro deles. Mesmo assim pedi para o colega encostar. Ele parou perto de onde era o banheiro e fui lá ver.

Era pior do que você possa imaginar. O banheiro nem porta tinha. Por mais vontade que eu tivesse, minha dignidade não me deixava usar aquilo. Então resolvi recorrer ao gerente do posto. Perguntei dele se tinha banheiro, e ele me disse que era aquele lá atrás. Eu estava fardado, tive que recorrer, e falei: amigão, aquele banheiro nem tem porta, e isso é uma emergência policial. Ele percebeu meu desespero e falou: pede a chave dos frentistas.

Isso foi engraçado porque eu olhei pro frentista que estava longe e falei: irmão, a chave do banheiro, pode me emprestar. Acho que na minha cara estava estampado meu desespero, porque ele sacou a chave rapidamente do bolso e arremessou-a pra mim. Sucesso. Banheiro limpinho. Papel de emergência na mão. Mais uma operação bem sucedida, depois de alguns sacrifícios.

E descobri depois, conversando com os colegas, que uns 70% daqueles que trabalharam naquele dia foram abatidos por causa da comida servida. Depois desse dia aprendi. Nada me faz comer comida que ficou fora da geladeira aqui no nosso clima. Fico com fome, mas pelo menos com a dignidade íntegra.

ps.: Pessoal, comentem aí se vocês curtem essas histórias de bastidores.

pps.: Não esquecem de seguirem lá no Instagram: @apfdonorte

ppps.: Tem um cupom de desconto válido para o Missão Papa-Fox. Clique aqui!

pppps.: Se acharem algum erro, favor informar. Eu sou meu próprio editor. Ajudem aí, senhores.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Cupom de desconto para o Projeto Missão Papa-Fox

Finalmente um descontinho para o melhor projeto de simulados para carreiras policiais!

Pessoal, quem me acompanha no Instagram sabe que eu enchi o saco do pessoal no Projeto Missão Papa-Fox para ganhar um cupom de desconto para os leitores do blog e seguidores.

O Missão Papa-Fox foi um dos grandes responsáveis pela minha aprovação. Por meio dos simulados eu sabia exatamente onde precisava melhorar. E quando me perguntam por aqui ou pelo Insta o que eu recomendo para aumentarem as chances de serem aprovados, sempre respondo: Questões e simulados do missão papa-fox.

E, acho que por isso, eles finalmente liberaram um cupom de 15% de desconto. Na verdade eles liberaram faz 2 dias, eu comi mosca e só vi agora no e-mail.

Quero que fique bem claro que eu não estou recebendo absolutamente nada por isso, e nem é minha intenção. Sei que tem muita gente com a grana curta, espero conseguir ajudar o máximo de pessoas possível.

Quero agradecer de coração o pessoal do Projeto Missão, que faz um excelente trabalho mesmo.

Clique aqui para ir para a turma para qual o desconto vale!

Cupom: Pergunte-me do Instagram por direct. Tem que estar me seguindo (@apfdonorte) e seguindo o Projeto Missão (@projetosmissao), e marcar um amigo na postagem do Instagram. Marque quantos amigos você acha que tem interesse nesse desconto.

O cupom dá um desconto de 15%. O Valor da turma normal é R$ 150,00, com o cupom fica R$ 127.00.

Espero realmente que ajude.

domingo, 12 de julho de 2020

Quem tem cu tem medo

A coragem e o medo.
Nas delegacias descentralizadas, que são aquelas que ficam nas nossas fronteiras, o trabalho do Agente de Polícia Federal é quase que um fazer de tudo um pouco. Diferentemente das Superintendências, que você normalmente fica lotado em uma delegacia específica, e só trabalha com aquele tipo de investigação. E, um dos serviços que fazíamos muito era a entrega de intimações. Só que o mais difícil dessa atividade nessas cidades pequenas do interior, não é a entrega da intimação propriamente dita, é saber onde entregar, e como chegar lá!

A cidade é habitada basicamente por pessoas de baixa ou baixíssima renda. Grande parte deles vivem do bolsa família. E muitos trocam de casa como verdadeiros nômades, isso quando não moram em um sítio longe, que só é possível chegar viajando horas pela estrada ou, até mesmo, navegando alguns dias de barco.

Por causa dessas características peculiares fica difícil achar o endereço atual, já que esse troca-troca de residência faz com que rapidamente os bancos de dados a que temos acesso fiquem desatualizados. E aí você parte para encontrar o telefone. Os números são trocados mais que mudas de roupas. Mas algumas vezes ainda é possível conseguir. Mas no caso de não achar endereços atualizados nem telefones e nenhum banco de dados, o jeito é sair perguntando dos ex vizinhos e parentes, para tentar fazer a localização da pessoa. 

E nós estávamos numa missão dessas: intimar uma pessoa que teria que dar esclarecimentos lá na delegacia. Não achamos porra nenhuma de endereços nem telefones, então partimos para rua. Depois de uma busca do capeta, perguntando daqui, procurando dali, fomos informados que a pessoa a ser intimada morava numa viela próxima ao rio. Só que nem era certeza ainda. Porque as pessoas nos informam assim: "fiquei sabendo que ela se mudou para o endereço X". E aí você vai no Google e procura o nome da possível rua até achar, isso quando sabem o nome de rua. A maioria das vezes nos informam por referência: "Ah, você que falar com fulano? Mora no entroncamento da padaria do Zé com a marmoraria do João, fica logo ao lado, conhece?" Como é cidade pequena, para nossa sorte, após apontada a direção da possível residência, acabamos achando a rua, e lá nesse novo endereço começa nosso perrengue novamente de perguntar e perguntar. Algumas vezes achamos, mas nem sempre.

E nessa incursão de procura e não acha que eu e um colega nos deparamos com uma situação complicada. Após passar a manhã toda buscando uma pessoa que deveria ser intimada, chegamos numas palafitas localizadas em cima de um mangue da cidade, na beira do rio. Aqui chamamos essas áreas de várzea, que é onde o rio alaga quando enche. Não tinha como entrar com a viatura, era muito estreita. E, o lugar era sabidamente uma área vermelha da cidade, por ser dominada por uma conhecida facção criminosa.

Na entrada da viela havia um moleque comento uma marmita, com todo jeito de ser um olheiro dessa facção, e duas meninas com características de usuário, sendo que uma usava uma tornozeleira do tipo que dão quando se sai da penitenciária. Não dá para esconder a profissão, e nem inventar história, mesmo estando à paisana, já que na cidade todos sabem que você é policial. E essas pessoas sentem o nosso cheiro. Perguntamos pelo nome de quem queríamos intimar. Falaram que não conheciam. A partir daí tínhamos duas opções: entrar no beco ou sair dali.

Enquanto nos olhavam, nos afastamos um pouco e conversamos entre nós se valia a pena entrar, e decidimos que não valia. Era um lugar apertado, sem rotas de fuga. Não havia para onde correr e nem onde se esconder caso aparecesse mais gente e quisessem nos emboscar. Não tem nenhuma justificativa você querer dar uma de herói para nada, muito menos para fazer uma mera intimação. Nem tínhamos certeza se era ali mesmo que quem procurávamos morava. Então achamos que seria a hora de nos recolhermos. Andamos um passo para trás, para depois andar dois para frente.

Não é vergonha sentir medo. O medo é aquilo que faz você ficar seguro. Eu não me lembro se achamos essa pessoa depois em outro endereço ou se simplesmente não encontramos, mas quis relatar aqui uma situação de perigo que achamos que não valia correr o risco, mesmo sendo policiais treinados. É impossível ganhar todas, o que não pode acontecer é deixar morrer.

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domingo, 21 de junho de 2020

Quando um APF liga o Contador fica desconfiado



Como já falei diversas vezes aqui, eu era lotado em uma delegacia que ficava em uma cidade no interior de um estado do nosso lindo Norte brasileiro. E, nessas cidades do interior, as pessoas se escondem sem querer se esconder de fato. Isso acontece por vários motivos: Por não declararem o imposto de renda, e com isso os bancos de dados ficam desatualizados. Por não terem acesso à tecnologia e redes sociais, dificultando essas buscas. Por morarem em sítios afastados que não pegam celular, não sendo possível achar os registros dessa forma também. Ou até mesmo por mudarem muito de casa, já que não tem uma propriedade residencial para chamar de sua, fazendo também que os nosso bancos de dados fiquem rapidamente defasados.

Esse tipo de situação dificulta demais de localizarmos essas pessoas quando se faz necessário. E quando existe uma ordem de encontrar e intimar, o chefe não aceita um simples "não achei" como resposta, a justiça também não. Se for para dar uma resposta dessas, o Agente Federal tem que ter feito uma busca minuciosa na cidade inteira, nos bancos de dados a que temos acesso, procurado em casa de parentes e amigos do "escondido", conversado com empregadores para quem a pessoa trabalhou, conversado com informantes. Talvez eu tenha esquecido algo, mas o delegado, bem como o promotor, na hora de mandar você procurar de novo, vai lembrar de algo que você esqueceu de fazer. Então, no final das contas, é bom você sempre achar.

E, por causa dessa exigência, que são exigências plenamente justificáveis, nós ficamos experts em achar pessoas, independentemente da sua furtividade (Queiroz que o diga). Podemos até não conseguir ir intimar, pois existem localidades que ficam a 3 dias de barco da cidade mais próxima, mas aí mandamos recado pelo barqueiro, e a pessoa aparece na delegacia para ser ouvida. Somos persistentes. Sempre seremos se quisermos fazer um bom trabalho. Não existe bom trabalho policial sem uma persistência do próprio policial. O crime raramente está exposto e fácil de encontrar. Ou você procura bem, com excelência, ou não encontra.

E numa dessas buscas incessantes que achei, buscando um empregador, o contador da empresa empregadora. Já havia procurado com pai, mãe, irmão, tio, tia, primos e a árvore genealógica toda. Ninguém tinha o contato ou o paradeiro. O que os familiares me informaram foi que não tinham o contato porque a pessoa aparentemente tinha ido morar em outra cidade e não deixou informações de seu paradeiro com eles (sim, apesar de inacreditável, isso acontece muito). Foi nessa hora que mudei o foco e fui atrás de onde ele teria trabalhado. Achei uma empresa nos bancos de dados. Mas eu simplesmente não conseguia falar com o responsável, então achei o contador e seu telefone. E foi para ele que eu resolvi ligar. A intenção era falar com ele para achar o telefone do dono da empresa, e verificar se ele sabia do paradeiro de quem eu procurava, se ainda trabalhava lá ou se pelo menos tinha o telefone.

Vou falar uma coisa para vocês, contador é um ser desconfiado. Não é por menos. A quantidade de maracutaia que eles fazem por conhecer as brechas da legislação contábil não está no gibi. Mas as grandes operações da Polícia Federal estão ai para mostrar que várias vezes o grande operador da grana eram os contatores das mega empresas corruptas. Normalmente esse é o profissional que envia a grana para o exterior, lava o dinheiro e o oculta quando é necessário. Então não é de se estranhar que ao receber uma ligação de um Agente da PF o cara tranque o cu.

Liguei, ele atendeu e me identifiquei. Obviamente ele desconfiou. Achou que era trote ou golpe. Tive que explicar a situação toda. Falei que não era nenhum problema com ele nem com a empresa a qual ele era responsável pela contabilidade. Que estava ligando para achar uma pessoa que possivelmente havia trabalhado lá e que eu precisava do contato do dono da empresa para tentar achar essa pessoa. Claro que se me liga um estranho se identificando como sendo Agente da PF e pedindo qualquer informação,  tendo a cabeça que eu tenho hoje, jamais forneceria nada. Não pela ligação ser da PF, por possivelmente não acreditar que de fato era alguém da Polícia ligando. Sendo assim acho que ele está totalmente correto em ser o mais desconfiado e prudente possível. Hoje estão fazendo de tudo para roubar informações e aplicar golpes via telefone.

Mesmo eu fornecendo vários dados que tínhamos sobre o ele, ele não acreditou. Tive que pedir para que ligasse na delegacia onde eu estava para que acreditasse. Desliguei o telefone. Cinco minutos depois recebo uma ligação do plantão: APF do Norte, ligação para você. Era o contador, agora um pouco mais calmo e crédulo. Ele tinha procurado o número de telefone da delegacia na internet para poder ligar, pois qualquer numero que eu fornecesse ele desconfiaria, afinal é exatamente assim que golpistas agem. Pediu desculpas pela desconfiança e justificou, falei que não tinha problema e que o entendia perfeitamente. Aí, finalmente, me passou o telefone de quem eu queria.

E vida que segue. Depois ele deve ter ido no banheiro se limpar. :P

ps.: Senhores e senhoras, agora eu também entrei na onda do Instagram. Lá estou sempre respondendo as suas perguntas, por mais capciosas que sejam. @apfdonorte Sigam lá.

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sexta-feira, 22 de maio de 2020

Eleições como Policial Federal – muito trabalho - parte 02

Nós chegando na aglomeração.

Continuando o texto da semana passada sobre o trabalho nas eleições. Se você não leu, click aqui para ler!

Nós fazíamos algumas rondas com o pessoal da Polícia Civil. Um dos objetivos era impedir aglomerações por causa da compra de votos. Coisas comuns, como eu disse no outro texto, que acontecem nas eleições principalmente dos interiores do nosso país. Montamos nas nossas viaturas e saímos rodando a cidade.

Entrávamos em cada ruazinha, beco, viela, procurando aquele crime (um pouco de drama). Até que passamos por uma casa cheia de gente. O Pessoal da PC parou a viatura um pouco mais afastado, nós paramos logo atrás deles. Desembarcamos das viaturas, eu e o colega da PF mais os dois colegas da PC. Reunimos rapidamente próximo à casa da aglomeração para planejar mais ou menos como faríamos, para não ficar tudo descoordenado, e partimos para ver o que estava acontecendo na casa.

Não posso esquecer de dizer que as duas equipes, PF e PC, estavam vestidas ostensivamente. Roupa preta, coldre com arma, algemas e spray de pimenta na cintura. Calça e coturnos táticos. Dignos de aparecer no fantástico só pela paramentação. Se não me engano um policial civil ainda tinha uma submetralhadora em uma das mãos. Então estávamos chamando bem a atenção por onde passávamos.

Agora voltando à ocorrência.

Rapaz, tem coisas que só acontecem comigo. Parece que é predestinado: APF do Norte, vai ser com você! A gente foi chegando perto da casa, esperando achar um vereador ou um prefeito, com os bolsos cheios de dinheiro, distribuindo para a população, com a horripilante intenção de comprar votos, mas não! Ao chegarmos na entrada, olhamos direitinho e, para nossa surpresa, o que estava acontecendo? Um velório (naquela época ainda podia velório, acho que os mais jovens nem devem lembrar - pandemia me afetando já, desculpem). 

Sério, parece até zueira, mas não é. Pensa em 4 policiais com cara de besta saindo de fininho pra não chamar mais atenção do que já tínhamos chamado! Nos recolhemos a insignificância de nossas viaturas, recobramos nossas dignidades e partimos.

E foi assim que terminou mais essa aventura. Essa talvez tenha sido um pouco mais constrangedora que a outra!

Ps.: Pessoal, não esqueçam de compartilhar nas redes sociais se vocês gostarem e me sigam também no instagram @apfdonorte. Lá eu tento ser um pouco mais descontraído e mais frequente.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Pontuação das lotações e Adicional de Fronteira na Polícia Federal

Pessoal, como esse assunto é uma dúvida geral de quem faz o concurso da Polícia Federal, e principalmente de quem vai para a ANP, estou postando o ranking de pontuação de cada lotação e se tem ou não o adicional de fronteira. Pode um ou outro estar incorreto, ou faltar uma lotação ou outra, mas foi o melhor que eu consegui. Grande ajuda do meu amigo @pedrocooke. Sigam ele lá no instagram. Cara dá dicas de concurso e até escreveu um livro.

Aproveitem e me sigam lá também: @apfdonorte.


ps.: Pessoal, se forem replicar essa planilha, peço por gentileza que deem os créditos.
pps.: Se você curtiu, compartilhe. Ajuda demais.

terça-feira, 12 de maio de 2020

Eleições como Policial Federal – muito trabalho



Prepare-se para quase nunca mais votar na sua vida, já que em todas as eleições, ou em quase todas, você terá que viajar para trabalhar em outras cidades da sua jurisdição, já que a PF sempre envia vários agentes, escrivães e delegados para essas regiões, quase sempre em duplas. Normalmente a cidade é de interior do interior, ou seja, muito pequena, principalmente se você estiver em cidades de fronteira.

Nessas cidadezinhas provavelmente você ficará colado com o promotor ou com o juiz, ou com ambos. Existem muitos crimes eleitorais e pouca fiscalização. Prefeitos e vereadores podem ser eleitos à base de compra de votos. E como a maioria da população é muito carente, e tanto faz quem vai ser ou deixar de ser o prefeito ou vereador, não ligam muito por “vender” o voto por mixaria. Quem é de interior pequeno ou já foi em eleições nessas cidadezinhas sabe bem disso.

E para quem não conhece o norte, olhe no mapa. Não há estradas para grande parte desses pequenos interiores. Por isso, para chegar até lá, existem duas possibilidades: pelo ar ou pela água. As nossas principais BRs aqui são os rios. Mas algumas cidades ficam a dias de distância pelo rio. Algumas são tão distantes que ficam a mais de 10 dias de barco de distância. Como não temos esse tempo todo para chegar e voltar dessas missões, a opção escolhida quase sempre é pelo ar.

Grande parte dessas localidades tem aeroportos. Que na verdade são pistas de pouso com um prédio que pode servir de torre de controle/local de trabalho de alguns funcionários. E algumas só tem a pista de pouso. Essas pistas existem pela necessidade de que alguns mantimentos precisam chegar rápido, ou até mesmo retirada aérea de doentes (acontece muito). E, se você tem medo de voar, definitivamente a Polícia Federal não é para você. Porque nesses casos a única forma de chegar é viajando em um avião pequeno, normalmente é um monomotor de 4 lugares mais o piloto. Pense num troço que chacoalha.

Porém, quando viajei para essa missão, fomos no helicóptero da PF. Pessoal do CAOP foi de Brasília até nossa fronteira no norte, para pegar os policiais e deixar cada um nas suas respectivas cidades de trabalho. Acho que nesse helicóptero cabiam 2 pilotos, mais 12 passageiros. Sendo que dois deles eram operadores do CAOP. Até brinquei com um deles falando: vocês treinam dia e noite, atiram até de ponta cabeça, e a missão é passar dias viajando até aqui para transportar a gente pra eleição. Deve ser chato! Ele riu e falou: “faz parte!”. Essa galera dos grupos especiais tá pronta pra quase tudo, pensei. E ainda fazem sem reclamar de nada. Tiro o chapéu.

Voltando para a missão. Entramos no helicóptero. A cidade que eu era lotado não era tão pequena, então nem a chegada nem a saída do helicóptero dá PF não foi um evento que chamou atenção. Mas ao chegar nas cidadezinhas, o aeroporto simplesmente lotava. Muita gente assistindo pouso, desembarque, decolagem. Helicóptero cinza da Polícia Federal era um evento raro.

Agora pensa você que acabou de entrar na Instituição. É você que vai ser transportado. É você que vão ver saindo daquele helicóptero todo paramentado com as letras douradas nas costas escrito “POLÍCIA FEDERAL”. Vou falar para vocês: a viagem é demorada, cansativa e quente, mas a sensação de estar ali é boa demais.

Mas, como sabemos, a vida não é feita só de alegrias. Você finalmente, após algumas horas de voo, chega no seu destino. Para terem uma ideia, a cidade para qual fomos ficava no estado vizinho, no meio da floresta. Então você e seu canga descem, atravessam a multidão que está olhando para vocês (uns admirados, outros desconfiados), veem o helicóptero partir, e vão para o hotel. E aí é quando a verdadeira aventura começa.

Nós chegamos ao hotel e nos instalamos. Felizmente tinha quarto individual. Percebemos que os celulares mal mandavam SMS e que não havia wifi. Não deu tempo de descansar muito. Tivemos que ir a uma reunião com o Juiz, promotor, e com o policial civil que era chefe de polícia/carceragem do lugar. O delegado da capital ainda não havia chegado.

Nessa reunião foi decidido como íamos agir. O que deveríamos fazer e os horários de trabalho. O juiz e o promotor foram bem solícitos e aceitaram bem as ideias que demos. Dessa vez não ficaríamos com o juiz nem promotor. Eles optaram por nos dar uma viatura para ficarmos circulando pelos colégios eleitorais. Fomos comer alguma coisa e depois descansar um pouco. À noite saímos para jantar e o chefe da polícia foi nos mostrar os colégios e um pouco da cidade. As eleições seriam no dia seguinte.

Na reunião ficou decidido também que iríamos fiscalizar principalmente crimes eleitorais, o que incluía ir a bares que estivessem para verificar se estavam descumprindo a lei seca. O objetivo não era prender, era orientar as pessoas que lá estivessem, mandar para casa e obrigar a fechar o estabelecimento. Porque se fosse prender, dependendo de como estivesse a delegacia, a equipe ia perder o dia. Quem é policial sabe que um flagrante normalmente demora horas para ser lavrado. Ainda mais em dia de eleição com a delegacia cheia.

Então, no dia da eleição, como não conhecíamos a cidade, ficamos rodando junto com o chefe da PC e mais um policial civil. Cada instituição com uma viatura. Indo de bar em bar e mandando fechar os que estava vendendo bebidas alcoólicas.

Chegamos em um bar perto de um dos colégios eleitorais. Lá tinham algumas pessoas sentadas e resolvemos fiscalizar cada uma. Perguntar se estavam bebendo, avisar que não podia beber ali, e essas coisas mais que Polícia faz. O Policial civil virou para nós e disse: “aqueles senhores ali”! Rapaz, eram dois velhinhos bem magros e pareciam meio embriagados. Pensei: que risco eles podem oferecer.

O PC mandou: - Encosta na parede e levanta a camisa! Apenas um levantou a blusa. O outro hesitou. Então o PC levou a mão à arma. E eu pensei: rapaz, esse cara está exagerando. Para que tudo isso com esse velho? E mandou levantar a camisa novamente, só que agora de forma mais firme: Levanta a blusa! O velho, que agora era suspeito, não levantava. Ficava parado nos olhando. Até que ele finalmente levantou vimos uma faca na sua cintura.

Para quem não sabe, faca mata tanto quanto arma de fogo. E para que você fique numa distância segura (para dar tempo de sacar e atirar), salvo engano, tem que estar de 7 metros ou mais afastado de quem está com a faca. Foi por isso que o PC levou a mão à arma, ele já tinha visto a faca, ele me disse depois.

O velho ficou parado nos olhando. Nós nos entreolhamos rapidamente. Fui em direção ao suspeito juntamente com o chefe da PC. Seguramos os braços e retiramos a faca da sua cintura antes que ele tivesse algum tempo de reagir. Ele não ofereceu nenhuma resistência. Perguntamos para que ele tinha aquela faca? Ele disse que um homem na idade dele precisa de proteção. Verificamos os antecedentes e não parecia ter nada. Mandamos para casa e apreendemos a faca. Continuamos nossas rondas.

Eu não tenho ideia de como o Policial Civil viu que ele estava com uma faca na cintura antes mesmo de ele levantar a camisa. Mas ainda bem que a intuição do cara estava afiada. Aprendi com isso que jamais devemos vacilar, independentemente da idade do abordado.

ps.: Esse texto ficou um pouco longo. Mas ainda tem mais história dessa eleição.

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segunda-feira, 4 de maio de 2020

Uma tarde de campana (vigilância) - não pense que é como nos filmes!

Isto não é uma vigilância policial!!

Muitos filmes e séries policiais mostram a vigilância policial. Mas normalmente a ordem é: fiquem de olho nele. Como se fosse uma coisa simples, prática e tranquila de se fazer. Aí a dupla de policiais fica tomando café e comendo donuts até acontecer algum evento com o alvo, o que acontece rapidamente, quando eles partem para a ação. Quem dera fosse que nem nos filmes.

A vigilância policial da vida real é um fundamento bem cansativo normalmente. Dependendo das condições ambientais, você só aguenta poucas horas. Calor e frio extremos, principalmente, sugam demais a energia do combatente. E é muito comum, mas muito mesmo, uma vigilância durar algumas horas. Algumas vezes pode durar até dias, mas nesse caso as equipes precisam ir se revezando para poder ser eficiente e aguentar.

Eu ainda era recém empossado quando a equipe me chamou para fazer a vigilância da casa de um contumaz traficante da pequena cidade onde eu trabalhava. Tínhamos a informação de que ele mandaria drogas naquele dia para a capital do estado.

Lá na cidade do interior os vagabundos sabem quais são as viaturas policiais e conhecem também a maioria dos Policiais Federais. Por causa da quantidade de PFs de outras regiões, o perfil normalmente é muito diferente do pessoal regional. Então fica muito difícil se misturar. E, por isso, para fazer a vigilância de forma a não ser notado, você tem que ficar quase que escondido com a viatura, ou então bem de longe.

Por isso decidimos sair com uma viatura menos usada, porque assim a probabilidade de o traficante reconhecê-la era menor. Mas tinha um porém: o ar-condicionado estava com defeito. Aqui no Norte, para quem ainda não visitou, eu vou explicar: você não precisa de agasalho em nenhuma época do ano. E você sempre precisa do ar-condicionado. É item quase que obrigatório. Mas, no nosso caso, era a única opção. Então fomos no calor mesmo. Empolgado e novinho, pensei: esse calorzinho não derruba ninguém não. O tempo me provaria quanto enganado eu estava.

Quando chegamos ao local que faríamos a vigilância, todos já estavam pingando de suor. No caminho, com o carro em movimento, tinha pelo menos o vento que entrava da janela para ajudar a refrescar. Quando paramos o carro, nem isso tinha. Ainda, por cima, não podíamos deixar os vidros escancarados, já que era importante o alvo ou seus olheiros pensarem que não havia ninguém no carro (aqui grande parte da frota de veículos tem vidros escuros por causa do calor, e normalmente o Detran não cobra tanto a legislação que trata dessa parte). Ou seja, vidros quase que 100% fechados.

Eu já estava quase pedindo arrego, e só tinham se passado uns 50 minutos. Mermão, estava muito quente. Mas como era novinho, fiquei na minha. Na viatura comigo tinham mais 2 novinhos e um antigo, mais experiente, que era do concurso anterior. Eu que não ia ser o novinho a mostrar que estava quase morrendo. Eu desmaio aqui, mas não falo que tô morrendo, não vou ser eu o novinho que vai estragar a vigilância, não preciso dessa fama, pensei, com o que me restava da minha consciência!

Nós fomos fazer essa vigilância pela parte da tarde, ou seja, já tínhamos passado a manhã fazendo os trabalhos rotineiros da delegacia, então não estávamos zerados. Mas ninguém estava esgotado também. Era o cansaço normal do dia (só um adendo explicativo mesmo).

Ficamos mais uns 40 minutos derretendo lá, aí foi quando o antigo resolveu ligar para a base para saber se eles tinham mais alguma informação, ou se poderíamos voltar. A base falou: segura mais 20 minutos aí, para desencargo de consciência. Nessa hora eu estava torcendo demais para a base falar: Pessoal, pode voltar! Mias 20 minutos eu achei que a morte era certa.

Mas, por incrível que pareça, foi o mais antigo que falou: pessoal, só mais esses 20 minutos tá, estou no meu limite. Aí a equipe toda concordou rapidamente. Foi quando eu vi que estava todo mundo na merda já. E eu achando que só eu que tava sofrendo. Passaram os 20 minutos, nada aconteceu. Abrimos os vidros para tentar não morrer e voltamos para a delegacia. (A vigilância não foi em vão, antes que perguntem, deu frutos).

E foi assim uma das minhas primeiras experiências sofrendo fazendo vigilância. Descobrindo na prática como funciona e quão sacrificante é. Esse tipo de coisa só entende quem já passou. Então, a galera que está estudando aí, não pense que Polícia Federal é só pão e água fresca não. Tem muito trabalho árduo, cansativo e perigoso. Bem diferente do glamour dos filmes e seriados.

ps.: Pessoal, fiz um instagram para melhoras a interação. @apfdonorte. Sigam lá!

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quarta-feira, 29 de abril de 2020

Finalmente o Instagram

 @apfdonorte
Instagram @apfdonorte
Senhores, após alguns pedidos de leitores eu resolvi fazer um instagram. Confesso que não sei usar muito bem ainda os recursos do aplicativo, mas a minha intenção é postar lá coisas menos elaboradas que um texto, junto com imagens do dia-a-dia de um APF, além de chamadas para textos novos.

Já vi que tem muitos APFs que fizeram instagram somente com fotos e vídeos relacionados à PF. A minha intenção é gerar um conteúdo tanto para admiradores da Polícia Federal, quanto para concurseiros que querem ser policiais, e até concurseiros em geral.  

O instagram se mostra uma ferramenta mais dinâmica que o blog, então tentarei sem um pouco mais descontraído e frequente por lá. Mas os textos continuarão aqui. Espero que gostem.

Segue lá @apfdonorte.

sexta-feira, 27 de março de 2020

Mais uma deflagração da PF contra facções criminosas

Eu gosto de escrever sobre as curiosidades da Polícia Federal, sobre os bastidores, coisas que acontecem que a mídia normalmente não mostra. Hoje não vai ser diferente. Já falei aqui nos comentários desse blog, várias vezes, que a PF é muito mais polícia de escritório que polícia de rua. E apesar de ser na deflagração das operações um dos poucos momentos operacionais de rua, a história de hoje ocorreu pós a deflagração, dentro da superintendência.

Eu juntamente com minha equipe fomos fazer uma busca e apreensão na casa de um membro de uma famosa facção criminosa do Brasil. Essas investigações de facções são, para mim, muito mais interessantes que as investigações de drogas. Isso porque quando você desarticula a facção, certamente você dá um tombo muito maior nos criminosos do que quando apreende droga e prende mais uma mula. Ainda mais que hoje em dia que as investigações vão atrás de prender o dinheiro e os bens das facções, não somente as pessoas envolvidas. Isso sim faz diferença.

Após concluirmos a busca, voltarmos para a superintendência e fazer os relatórios pertinentes, a equipe ficou em sobreaviso até o fim da deflagração, pois outras equipes poderiam precisar de apoio. E nesse ínterim, eu tomando um café em um dos corredores, um escrivão me chamou: APF do Norte, preciso da tua ajuda aqui com esse preso.

Ele ia coletar umas informações com o preso, e precisava de mais um policial na sala, caso o preso quisesse tentar alguma "graça". Então fiquei de babá lá enquanto ele entrevistava e perguntava algumas coisas do meliante. Após essas primeiras informações (normalmente são perguntas sobre informações cadastrais - nome, endereço, profissão, etc.), o preso iria para uma outra sala, onde o delegado o esperava para fazer o interrogatório.

Esse meliante, nessa ocasião, já estava preso antes de ser preso novamente. Sim, isso acontece. O cara recebeu mais um mandado de prisão já estando na penitenciária. E aí ele é levado para ser ouvido por um delegado sobre essa nova situação que o levou a ser preso novamente (sei que é meio confuso, mas funciona assim mesmo). Era um jovem com aparência de uns 20 e poucos anos, branco e usando óculos. Passaria desapercebido como criminoso comum. Tinha aparência de jovem de classe média. Diferente da maioria dos pobretões que a PF prende nessas operações pelos interiores do nosso país (sim, isso é uma crítica). Mas até então eu não sabia quem ele era ou sua importância no mundo do crime.

Após sairmos da sala do escrivão, fui pelos corredores levando-o algemado para encontrar com o delegado. Porém me informaram a sala errada, e então eu fiquei procurando a sala, de um lado para outro, que nem um besta, com o preso, pela superintendência, perguntando de um e de outro onde o delegado fulano de tal estava. Isso durou uns 5 minutos até achar o lugar certo. Enquanto eu perambulava procurando a sala, eu fui conversando com o cara, pra saber o que ele fez. Eu perguntei: porque você foi preso. Ele respondeu: agora, ou na primeira vez? Eu: A primeira vez. Ele: Formação de quadrilha, tráfico de droga, e mais uns 2 crimes. Nessa hora eu já percebi que não era um preso comum. E antes que eu pudesse continuar matando minha curiosidade, encontrei o delegado que o interrogaria.

Ao entrar na sala, o delegado me pediu para ficar, já que ele não queria ficaria sozinho com o preso. Mesma situação do escrivão que eu relatei acima. Então fiquei ouvindo o depoimento e tentando entender porque aquele moleque tinha sido preso.

Ouvindo o que o delegado estava a perguntar, percebi que ele era um dos que mandavam na facção. Cargo alto. Preso importante. Ainda mais quando um membro do MPF que investiga facções criminosas (GAECO) entrou na sala e o chamou pelo nome. Para o promotor conhecer o cara pelo nome, esse faccionado deve ser muito importante - pensei. O preso não respondeu absolutamente nada que o delegado perguntou, usando do seu direito de permanecer em silêncio, gerando uma ligeira insatisfação do promotor federal que também acabou acompanhando a oitiva.

Após isso, me solicitaram que o levasse para a sela. Ao chegar na carceragem, vários membros da mesma facção já estavam presos, e fizeram uma festa quando ele chegou. Era bem hora do almoço. E o preso falou: rapaz, eu estava morrendo de fome. E a comida servida pela Federal é muito boa. Eu falei: Está com o cheiro bom. E ele: é boa, pode acreditar. Parecia quase um almoço em família. Eles riam e brincava. Como pode alguém preso ficar tão animado, eu me perguntava.

E fui me retirando pensando nessa alegria toda deles, quando um colega me abordou já do lado de fora da carceragem e perguntou com um tom de exclamação: Sabe quem é esse cara que você trouxe? Eu falei que não. E ele me disse: é o Presidente dessa facção aqui no estado. Um ser extremamente violento. Depois o cara do GAECO me confirmou isso também.

Eu fiquei pensando: Aquele moleque com cara de adolescente de classe média. Era até difícil de acreditar. Mas o cansaço me fez esquecer. Eu tinha acordado antes das 3h da manhã para a deflagração da operação. E então fui buscar mais um café e ver se ainda tinha algo para comer por lá.

ps.: Era só isso. Nem sei como concluir a história.
pps.: Pessoal, podem sugerir assuntos. Além disso, podem compartilhar a história no Facebook pelo link que tem aqui no blog.