PERGUNTAS FREQUENTES!
domingo, 18 de abril de 2021
O dia em que fui abordado de forma muito truculenta pela PM
sábado, 27 de fevereiro de 2021
Pontuação Mínima no Concurso de Remoção por Lotação - Agente de Polícia Federal (2020)
sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
Pontuação Mínima no Concurso de Remoção por Lotação - Escrivão De Polícia Federal (2019)
domingo, 3 de janeiro de 2021
Aula de Simunition - Entrada em residência - Aulas da Academia Nacional de Polícia Federal - ANP
Munição de simunition! |
"Então estávamos encurralados. Nos cercaram em um corredor, não tínhamos onde nos esconder. Os disparos vinham pela frente e pela retaguarda...".
Durante a ANP temos muitas aulas bem legais e divertidas. As de simulação de qualquer tipo de ação policial são as melhores, na minha opinião. Eu sempre as considerava muito melhores que qualquer aula de tiro. Não sei se é porque atiramos até enjoar na academia, e acabamos por cansar de dar tiro. Mas eu realmente prefiro as aulas de simulação. Pena que, quando fiz a ANP, eram poucas.
Nesse dia seria uma aula de simulação no SEOP (Serviço de Ensino Operacional). A missão seria fazer a entrada tática em uma residência. Bandidos armados estaria nos esperando, que seriam representados pelos professores. Para fazer esse exercício nós e os professores usaríamos umas Glocks especiais, que são feitas para atirar munição de tinta, chamadas de simunition. As munições de simunition são quase iguais às reais, mas são feita pra serem usada nessas Glocks especiais, e seu projétil é uma capsula plástica com tinta dentro.
Perguntei o porquê de não usarmos armas e munição de Airsoft. Eu achava que, se usássemos Airsoft, esse tipo de aula poderia ser ministrado com muito mais frequência, já que sairia muito mais barato que usar simunition. Responderam que a intenção é parecer o mais próximo da realidade possível, por isso se usa esse tipo de arma e munição.
Para a atividade a turma foi separada em equipes de 5 e 6 componentes. Enquanto uma equipe fazia a entrada na residência, as outras ficavam fazendo outras atividades. Não me recordo quais eram essa outras atividades, mas provavelmente alguma outra simulação ou treinamento. Quando uma equipe terminava a simulação a outra entrava. As equipes que aguardavam não assistiam às que faziam a atividade, para não terem spoiler de como seria, e acabar acabando com a diversão dos professores (mas a frente vocês entenderão).
Os alunos e professores estavam equipados quase da mesma forma. Coletes e mascaras de proteção facial. Só tinha um porém: os professores, que simulariam os bandidos, estava equipados com os carregadores cheios de munição. Ou seja, tinham munição à vontade para gastar em nós. E nós, alunos, que simularíamos os policiais, estávamos equipados com apenas duas munições no carregador. Ou seja, nós seríamos mais os "alvos" que propriamente os atiradores (olha a diversão dos professores aparecendo).
Eles falaram que dessa forma, com pouca munição, seríamos forçados a treinar mais a nossa tática de entrada! Mas acho que eles queriam só se divertir mesmo nos usando de alvo. Acho que é aquele tipo de aula em que eles combinam entre eles de ser usada para desestressá-los. O briefing antes da aula deve ser assim: rapaz, nós vamos hoje detonar os alunos na bala de tinta, quem quer? Tenho absoluta certeza de que nesses casos sempre têm mais professores voluntário para participar que vagas disponíveis para dar aula. Afinal, quem não acha divertido maltratar de aluno? Pois é!
Voltando à simulação, finalmente chegou a vez da minha equipe de participar. Como eu já era policial e já tinha feito uma academia (PRF), os professores me mandaram ficar na retaguarda e entrar por último, pois queriam alguém que não tinha experiência policial para entrar primeiro. Mal eles sabiam que era a primeira vez que eu fazia aquilo!
Na minha equipe tinha uma menina que estava quase travada de medo. Será chamada, a partir daqui, de zero meia. Claro que eu estava ansioso e tenso, acredito que a maioria da equipe também estava, afinal era uma simulação bem realista. Mas nós conseguíamos não deixar isso nos dominar. Mas a zero meia estava quase colando as placas.
Ao chegarmos na residência simulada, batemos na porta e gritamos: Polícia Federal, abram! E ninguém respondeu. Um colega, que já era Policial Civil, gritou e bateu novamente. Não havendo resposta, então ele tomou a dianteira, meteu o pé na porta até ela escancarar.
Ele foi esperto, meteu o pé e saiu da frente, porque mal a porta abriu, já fomos recebidos uma chuva de bala vindas lá de dentro, em nossa direção. Acho que os professores tinham munição infinita, tipo nos jogos de vídeo game, porque os disparos simplesmente não paravam. Quando eles finalmente deram uma pausa, acho que para recarregar, a equipe adentrou para revistar o primeiro cômodo.
Só que a zero meia colou as placas e não entrou junto. Ela estava bem na minha frente na fila, por isso não consegui seguir a equipe, travado por ela. Então ficamos nós dois do lado de fora. Assim que a equipe passou pela porta, a chuva de bala voltou.
A parte da equipe que entrou ficou abrigada na parede do primeiro cômodo. Os tiros vinham de um quarto que ficava após essa parede, um pouco mais a frente. Se me recordo bem eram 5 na equipe. Então 3 entraram e 2 ficaram fora: eu e a zero meia. Mesmo com meus insistentes comandos para ela entrar, ela travou. Ficamos uns 3 minutos nesse impasse. Até que finalmente a convenci a entrar, após uma nova pausa dos tiros.
Nos juntamos à equipe que nos esperava no primeiro cômodo, em fila. Ficamos aguardando que os professores dessem uma nova trégua nos disparos para poder prosseguir. Quando finalmente isso ocorreu, o primeiro da fila, seguido por nós, rapidamente ganhou o corredor. Havia uma porta a esquerda, que já tínhamos visto da entrada. Por isso sabíamos que era, até agora, de onde vinham a maioria dos disparos. Fatiamos para entrar e rendemos os dois "bandidos" que ali se escondiam. Acho que eles já tinham ficado sem munição, porque não atiraram e nem tentaram.
Voltamos para o corredor e prosseguimos. Nesse corredor havia mais duas portas, uma em frente a outra, ambas abertas, com mais dois cômodos. Na posição em que estávamos não dava para ver os seus interiores. De repente saiu um professor atirando de uma das portas e entrou na outra. Nessa hora todos atiraram nele também. Foi um "barata voa" da porra!
Uns gritavam: parado polícia. Outros gritavam de dor porque já tinham sido atingidos pelos primeiros disparos. Como sou azarado, eu era um dos que gritava de dor, mesmo estando quase no final da fila, tinham me acertado. Você ser acertado não te "matava". Podia prosseguir na simulação. Nesse "barata voa" todos da equipe gastaram suas munições.
Então, para piorar, enquanto o maldito professor ficava cruzando nossa frente atirando, também apareceu um professor pela nossa retaguarda e começou a disparar. Agora estávamos sem munição e encurralados no corredor. O professor ainda continuava passando pela nossa frente, de um cômodo a outro, nos usando de alvo, enquanto o outro aparecia pela retaguarda no corredor e disparava também. Era uma chuva de gritos de dor. E tome tiro nos alunos encurralados.
Esses tiros de simunition doem e podem até causar pequenas lesões. Logo no começo, quando o professor cruzou nossa frente pela primeira vez, tomei um tiro no dedo que achei que tinha arrancado uma falange. Porque doeu muito e depois ficou dormente. Estava escuro lá dentro da casa e não dava pra ver se o melado no meu dedo era sangue ou tinta do projétil.
Enquanto eu pensava se ainda tinha parte do dedo e onde estaria perdida a minha falange, a cena mais cômica da aula acontecia: Cinco alunos encurralados, um tentando usar o outro de escudo, tomando tiro de "festim" dos professores, que atiravam à vontade. Para nós: dolorido. Para eles: muito divertido!
Os tiros finalmente cessaram. Acho que ficaram com pena. Nós pudemos finalmente prosseguir, fingindo que ainda tínhamos munição, apenas para terminar a simulação. Com certeza o objetivo era fazer a gente se fuder. Não consigo enxergar outro propósito nessa aula! E esse intento foi concluído com sucesso.
Ao terminar o exercício, fomos olhar os danos. Meu dedo ainda estava no lugar, e íntegro! O que eu achava ser sangue, era só tinta mesmo. Não teria que procurar minha falange dentro da casa. Os egos estavam meio abalados e a zero meia estava em choque, pensando se tinha escolhido o concurso certo.
Fomos para a próxima aula sujos e com alguns hematomas. Apesar disso a aula foi bem divertida. Vida que segue!
ps.: Se gostaram, compartilhem e comentem o quanto quiserem.
pps.: Sigam no instagram @apfdonorte - lá sempre interajo com o pessoal. A conversa é sempre boa!
ppps.: Caso queiram mais histórias inéditas, tem o livro aqui!