PERGUNTAS FREQUENTES!

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Por que eu troquei a PRF pela PF


Senhores, esse é um relato com a minha única e exclusiva opinião. Não é uma verdade absoluta. Escolher uma ou outra polícia vai depender da percepção de cada indivíduo. Depois não quero ninguém falando: o APF do Norte disse que a PRF é pior que a PF!

Eu, desde o início da minha vida de trabalho, nunca quis ser chefe. Meu primeiro trabalho foi como assistente administrativo em uma escola estadual na minha cidade. A diretora queria que eu fosse secretário, cargo que eu prontamente recusei, mesmo tendo a possibilidade de dobrar meu salário. Não tenho vocação para mandar/coordenar ninguém. 

Alguns podem falar: vai ser sempre um pau mandado. Mas a grande verdade é que independentemente da sua posição na hierarquia você sempre terá um chefe. Você pode ser Capitão do exército. Vai ser chefe. Mas vai ter o Major, seu chefe, mandando em você. Então sempre alguém vai mandar em você. O chefe da delegacia onde eu trabalhava respondia para o superintendente do estado. E esse respondia para o Diretor Geral da Polícia Federal. Que respondia para o Presidente da República. Que responde para nós, povo (pelo menos na teoria). Veja que é um ciclo que nunca termina. Então independentemente de onde você esteja, você terá um chefe. 

Falando sobre carreira única: na PRF você também tem chefe. E minha experiência não foi muito boa com a chefia. Mesmo eu sendo nativo da cidade onde era lotado, sem pretensão de ir embora, gostando muito do que eu fazia e fazendo da melhor forma possível, eu era preterido em tudo pelo chefe (Exemplos: eu nunca viajava, ficava nas piores UOPs – Unidade Operacional, antigamente chamada de Posto – , era o último a escolher férias). E como eu não tinha intenção de mudar de cidade/lotação, provável que esse cara seria meu chefe por muito tempo. Então você percebe que chefe ruim tem em todo lugar. Por isso não adianta falar que a PRF é melhor porque não tem chefe. Tem sim. E pode ser igual ou pior que muito delegado. 

Tendo as premissas “chefe” equivalentes, então vamos para as atribuições. Na PRF, a não ser que você trabalhe em algum setor administrativo, você vai trabalhar na BR. Esse é o seu trabalho: abordar veículos e fazer valer a lei. É muito bom o trabalho. É divertido. Você consegue fazer diferença naquele lugar onde atual. É possível ver o comportamento dos usuários mudando naquele trecho. Você pode se especializar em vários tipos de fiscalização. Mas, apesar de tudo isso, o trabalho é na BR, braçal, com muito calor ou frio, e no regime de 24h de serviço por 72h de descanso. 

Para chegar as 8h da manhã em uma das UOPs na qual trabalhava, eu tinha que acordar 5h da manhã. Chegava às 6h na Superintendência e deslocava com os demais colegas até o local na BR onde ficava a UOP. E no retorno para casa, no dia seguinte, saia 8h da manhã da UOP para chegar quase meio dia em casa, a volta demorava mais que a ida por causa do trânsito do horário. As 72h de folga podem até parecer muito, mas não é bem verdade. Veja que só com o deslocamento eu já perdia quase 7h somando a ida e a vinda. Com isso o descanso já cai para 65h, e ainda tem o sono que você não teve na noite que passou. Logo você chega em casa muito cansado. Vai querer dormir durante umas 6h pelo menos para tentar se recuperar. Já caiu para 59h de folga. 

Além disso, todos os seus amigos de fora da polícia trabalham em horários normais, então você perde confraternizações, aniversários, casamentos, etc. A coincidência é impressionante, as datas em que seus amigos vão comemorar algo caem sempre nos dias do seu plantão. Sendo assim eu descobri que o regime de plantão não era um regime que eu queria ficar para sempre. 

E, após todos esses “poréns” que relatei acima, o salário da Policia Federal é maior, funciona com regime de expediente e o trabalho é mais investigativo. Claro que eu pensei nisso tudo somente após ter passado pela Academia da PF (ANP). Até o dia em que fui tomar posse na PF eu ainda estava com muito medo de me arrepender, mas felizmente, isso não aconteceu. 

Desde quando eu entrei, eu perdi a conta de quantas vezes viajei a serviço. Um lugar mais dessemelhante que o outro. Conheci várias culturas e pessoas. Fiz amigo em muitos lugares. E apesar de a PRF ter viagens também, a quantidade é muito menor. Sei disso porque converso com os amigos que permaneceram lá. A maioria quase nunca viaja. 

Muitas pessoas me perguntam se eu me arrependo de ter trocado, e a resposta é: de jeito nenhum. Sinto saudades de algumas atividades da PRF, da organização, do relacionamento com os amigos. Mas onde estou agora estou mais feliz com o trabalho. Gosto das atribuições. 

Quando concurseiros me perguntam o que deveriam escolher, eu digo: foca no tipo de trabalho. Foca no que você quer fazer durante sua vida e esqueça as picuinhas e rixas. A não ser que um dia você queira ascender na carreira, aí você tem que pensar em um cargo de chefia. Agente, escrivão e papiloscopista da PF não são para você, definitivamente, se você ainda quer um dia ser chefe. 

Tenho amigos na PRF que não fariam a troca que eu fiz. Amam a liberdade de ação que tem, e até conseguiram cargos de chefia. Por isso que eu disse no começo, depende da percepção de cada um, e essa foi a minha percepção. 

Ps.: Como eu disse lá no início: MINHA exclusiva percepção sobre as duas instituições. Não é verdade absoluta e nenhuma é pior que a outra. Tudo depende dos objetivos que você tem para a sua vida. 

Pps.: Adicionem lá no instagram: @apfdonorte – lá posto um pouco mais dos retratos das aventuras. 

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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Drogas no Aeroporto - Nunca Duvide!


Quando mudei de cidade no início do ano de 2020, saindo de uma delegacia descentralizada no interior para uma superintendência na capital, assim que cheguei já fui trabalhar no aeroporto da cidade, no setor de imigração. Nesse setor, a principal atividade, é atender os voos internacionais que chegam e que saem, fazendo a imigração de centenas de passageiros todo dia. O regime de trabalho é 24/72h, ou seja, trabalha 24h e folga 72h.

Mas, além de fazer a imigração, nós também atendemos aos chamados das companhias aéreas e dos funcionários do aeroporto para problemas com passageiros de voos domésticos que já estão do lado AR. O lado AR é aquela parte restrita do aeroporto, onde só podem entrar funcionários credenciados e passageiros que passaram pelo Raio X e detector de metais, o que inclui a sala de embarque dos passageiros.

Fiquei por cinco meses trabalhando no aeroporto e ganhando muita experiência. Mas todos que acompanham o blog aqui sabem que é muito comum eu me dar mal. E nada melhor do que você se dar mal para ganhar mais experiência ainda. E foi a minha falta de experiência que me fez cometer o erro que contarei para vocês abaixo:

Estava eu na salinha da PF, aproveitando para descansar num horário sem voos internacionais, quando tocou o telefone. Era um APAC (Agente de Proteção da Aviação Civil) - são aquelas pessoas que ficam normalmente no raio x dos aeroportos - me avisando que tinha uma mala suspeita no Raio X. Foi a primeira vez que me chamaram por esse motivo. Foi logo no primeiro mês de trabalho.

Como eu vinha de um interior que pegar droga no aeroporto era coisa rara, achei que não seria nada de mais. Fui ao Raio X e pedi para passarem a mala novamente. A imagem da máquina mostrava muitos tabletes de algo que parecia ser orgânico. Mas é muito comum, aqui na região norte, você abrir uma mala dessas e estar cheia de farinha, por exemplo. A farinha daqui é uma das melhores, e o pessoal leva para todos os cantos do Brasil. Achei que poderia ser isso.

E quem é policial sabe, você jamais abre a mala do passageiro sem estar na presença dele. Isso para não existir nenhuma dúvida de que alguém que não seja o próprio passageiro possa ter colocado algo dentro. Então mandei chamá-lo pelo rádio, na frequência da companhia aérea, para que ele fosse lá comigo. Dessa forma poderíamos abrir sua mala em sua presença. E fiquei aguardando, e esse foi meu erro. Mas fiz isso por não acreditar que poderia ser entorpecentes mesmo. Coisa de novato num aeroporto de grande porte.

Até que o funcionário da companhia aérea manda uma resposta pelo rádio: achamos o dono, estamos levando-o aí. Aguardei mais 1 minutos e o funcionário fala no rádio novamente: o passageiro está andando rápido para o estacionamento, disse que esqueceu algo no carro. Aí ficou suspeito demais. O cara ia viajar e esqueceu algo no carro? Então perguntamos: onde vocês estão? Ele demorou para explicar, o aeroporto é grande, e ele não explicava direito. Saímos procurando, mas nos desencontramos. E ele novamente se comunica, estamos no estacionamento do piso inferior, o passageiro saiu correndo.

Puta que pariu. Saí correndo pra encontrar o funcionário da companhia, que me disse apontando: lá vai ele. O cara já estava uns 200 metros de distância, e aumentando. Saí correndo atrás, nessas horas me arrependo de não ser um corredor. O vagaba sumiu na minha frente. Corri um quilômetro atrás dele, mas não alcancei. Estava quase morrendo já. Liguei para o colega pegar a viatura e ir me buscar. Se eu voltasse andando era capaz de ter um infarto. E olha que não sou gordo nem despreparado, mas o pique foi insano. A vontade de pegar o dono da mala era grande.

O colega me buscou, e resgatou uns APACs que tinham corrido junto comigo. Os caras foram parceiros, que esse nem é o trabalho deles. Conversando no percurso com algumas testemunhas, elas disseram que um homem com a descrição que demos pegou carona em uma moto. Acreditamos que era o comparsa que o aguardava fora do aeroporto caso desse algo errado.

Ao voltar para a sala do raio X, chamei algumas testemunhas, inclusive o colega da PF, e abrimos a mala. Eram uns 20 tabletes embalados a vácuo. Parecia muito com pacotes de café, só que não. Saquei o canivete tático e abri um para poder averiguar. Era skunk puro. O cheiro é inconfundível. Logo a sala toda ficou fedendo. Levamos a mala para a salinha da PF e começamos a tentar descobrir quem era esse cara que correu.

Todos, ao fazerem o check-in ou despachar mala, devem apresentar um documento. E a funcionária que o atendeu, por sorte, anotou o número do documento. Muitos no intuito de não serem descobertos usam documentos falsos, então esse documento poderia não significar nada. Mas, ao consultar os sistemas, achei uma foto. Mostrei essa foto para funcionários que o atenderam e bingo, ele foi reconhecido. Ele não foi preso em flagrante, mas será preso depois. Essa galera não para e uma hora a gente pega.

E foi assim que eu aprendi que não se deve pedir para o passageiro ir até você. Você vai lá e traz ele pelo braço. Eles normalmente não correm quando é um policial que está no seu encalço. E o meu erro foi ter deixado um funcionário da companhia aérea conduzir um suspeito de tráfico de drogas.

Depois desse dia, durante esses meses trabalhando no aeroporto, eu recebi vários chamados iguais. Quase todo plantão tinha uma ocorrência dessas. E agora eu ia com sangue nos olhos. Ninguém mais correu. Sempre eu ia buscar os passageiros lá dentro da sala de embarque. Trazia eles bem quietinhos até sua mala, abria a mala na presença deles, exatamente como manda o figurino. Acostumei a ver suas caras fingindo espanto e dizendo que não sabiam que aquela droga estava ali dentro, depois suas caras de tristeza e choro por terem sido pegos.

E esse foi um dos meus aprendizados. Na polícia nós temos um ditado que diz: Só a dor gera compreensão. Claro que isso não é 100% verdade, mas que a dor ajuda na compreensão, com certeza ajuda.

ps.: Pessoal, quem ainda não segue, @apfdonorte no instagram. Lá eu consigo interagir mais e com maior frequência. Sigam lá!

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