Imagem meramente ilustrativa |
É competência da Polícia Federal investigar os crimes relacionados a entorpecentes. E é por isso que há muitas operações relacionadas a esse tipo de crime. Há alguns anos a DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes) era a menina nos olhos da PF. Mas isso vem mudando desde 2002/2003, quando o desvio de recursos públicos entrou em evidência, e mudando mais ainda depois que começou a operação Lava Jato. Mas estou fugindo um pouco do assunto nessa introdução. Vamos ao que interessa.
Como acontece na maioria das vezes, recebemos o aviso que vai ter uma operação via ordem de missão: operação policial na data X. Não vem informando o que é. Aí vem mais: No dia X todos equipados a partir das 3h da manhã em na delegacia Y. Muitas vezes temos que viajar para outras cidades ou estados para essas operações. É de conhecimento da maioria que a PF bate quase sempre na porta dos vagabundos às 6h da manhã. E pra isso temos que acordar de madrugada.
Nesse dia minha equipe ia fazer uma busca na casa de um traficante figurão, com muita grana, e tentar prendê-lo. Eu digo "tentar" porque nem sempre eles estão em casa. E a casa dele era num bairro ruim, na periferia de uma capital do nosso país. Até pensei: lá vamos nós prender um pé rapado que mexe com drogas. Mas junto com a minha equipe, no briefing, fiquei sabendo que ia o pessoal do GPI. Se o GPI ia era porque o traficante era perigoso e figurão mesmo.
Saímos por volta das 5h da manhã da superintendência da Polícia Federal, para chegar lá no alvo pouco antes das 6h. Tínhamos que cercar e proteger o perímetro, já que era uma área dominada por uma conhecida facção criminosa, da qual esse traficante que íamos "visitar" era um dos chefes.
Chegando ao bairro, muitas casas pobres mesmo. Típico de um lugar esquecido pelo estado, que foi largado a própria sorte e, sendo assim, foi dominado por essa facção e pelo tráfico de drogas. Claro que há famílias de bem lá, como em todo lugar, porém ficaram refém desses marginais. Bem parecido como acontece nas comunidades do Rio de Janeiro.
A casa do traficante se destacava dentre as demais. Era uma verdadeira fortaleza. Muros de mais de três metros de altura, com cercas elétricas e serpentinas de arame farpado em cima. Não havia jeito de pular. Cercamos o terreno e fechamos as ruas com as viaturas, para evitar qualquer tentativa de outros marginais de se aproximarem em veículos.
Como o alvo era de alta periculosidade, não dava para bater palmas e esperar que ele abrisse. Então o pessoal do GPI pegou a marreta para arrombar. Gritando POLÍCIA FEDERAL, jogaram uma bomba de luz e som dentro do pátio, causando muito barulho, e começaram a marretar o portão de ferro, até abri-lo. Tudo isso demorou apenas uns 20 segundos. Esse é o momento da adrenalina. Não sei se para todos, mas para mim é. Eu nunca tinha precisado jogar uma bomba de luz e som. Foi minha primeira vez!
Então o GPI entrou na casa e a cercou rapidamente. Sempre gritando que era a Polícia Federal. Isso porque o traficante pode pensar que é um rival e, achando que vai morrer de qualquer jeito, abrir fogo contra nós. Ele sabendo que era a PF dificilmente vai tentar combater, já que sabe que não vai ficar muito tempo preso, e nem vai morrer. Nesse momento eu estava fora da casa fazendo o perímetro ainda.
Após cercarem a casa, já tinham quase certeza que não havia ninguém dentro. Mas ainda havia dois quartos fechado com cortinas, que não conseguiram olhar dentro. Então se posicionaram ao lado da porta, que era de blindex, e disseram: vamos arrombar! Só que a marreta tinha ficado do lado de fora do pátio da casa. Então gritaram: APF do norte, traz a marreta! (Isso não lembra aquela cena de Tropa de Elite quando o Capitão nascimento fala: Fulano, traz a vassoura!)?
Levei a marreta para dentro. Chegando lá, todos os operadores do GPI estavam segurando fuzil, e para ninguém ter que largar, falaram: pode quebrar, manda ver! Foi aí que meus olhos encheram d'água. Foi pra isso que eu estudei, porra - pensei! Me posicionei e bati na porta com a marreta, usando força moderada, com receio de estilhaços voarem e me atingirem, principalmente os olhos, que estavam sem proteção.
O blindex tremeu, mas não quebrou. Todos se entre olharam. O operador do GPI que estava próximo a mim, dando cobertura com o fuzil, que eu conhecia desde antes da ANP, me olhou e disse: caralh**. Bate de novo. Bati com um pouco mais de força. Novamente a porta de blindex tremeu, arranhou, mas não quebrou.
Eu pedi para o colega do GPI se afastar, para me dar mais ângulo para bater. Sentei a marreta com força. A porr@ da porta tremeu inteira, vibrou, fez barulho, mas não estilhaçou. Aí virou uma questão de honra! Posicionei-me melhor ainda para poder usar toda a foça. Era inacreditável como aquela porta era resistente. Ainda precisei bater com toda força mais umas 3 vezes, até que finalmente consegui estilhaçar a porta. Foi vidro pra todo lado. Só alegria!
Os operadores do GPI entraram com toda velocidade e rapidamente vasculharam todos os cômodos da casa. Vazia para a nossa decepção. Depois de todo esse esforço para entrar, fizemos a busca, apreendemos uns materiais, e voltamos para a superintendência. O importante é que todos voltamos bem e satisfeitos de ter cumprido a missão.
E essa foi a história da minha primeira porta estourada na polícia.
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