Como o título dessa postagem diz:
nos filmes de ação sempre funciona. Pelo menos nos filmes policiais sérios, que
são aqueles que não são de comédia, tipo “Loucademia de Polícia”. Acontece
assim: O policial brabão vai lá, bate na porta da casa do bandido malvadão. O
bandido malvadão não abre. E aí, o que o policial brabão faz? Chuta a porta. E,
com apenas um chute, ela abre e o bandido malvadão que estava bem atrás, sai
voando. E acreditando nessa premissa “chuta que abre” como verdadeira, eu
entrei na polícia.
Aqui na Polícia Federal nós
fazemos busca e apreensão com alguma frequência. Faz parte da investigação,
como vemos na TV mesmo. Se procurarmos as estatísticas da polícia federal, no
Brasil todo, somamos mais de uma operação deflagrada por dia. E muitas outras
buscas sem estarem em operações grandes, principalmente nos interiores desse
nosso Brasil de muitas fronteiras. Aqui a gente também trabalha, mas a mídia
nacional normalmente só mostra o trabalho da PF dos grandes centros.
Pois chega de lorota e vamos para
a história: um dia chegou uma ordem de missão com os seguintes dizeres: amanhã
de madrugada, todos aqui na delegacia, pois faremos algumas buscas e apreensões
pela cidade (claro que a ordem de missão é mais específica, esse é apenas o
resumo dela). Porque vocês sabem que a Polícia Federal gosta de acordar os
outros cedo né, tipo testemunha de jeová, só que um pouco menos invasivo!
E então, no dia seguinte, pouco
antes de amanhecer, partimos para a casa do nosso alvo. Procurar entorpecentes
era o objetivo. Chegando lá, a casa era rodeada por uma cerca de madeira, com o
portão também de madeira. Não dava para pular, e não tínhamos levado escada.
Por que o bom mesmo é acordar o “mala” batendo na porta do quarto dele, não na
porta de fora da casa! Entrarmos sem sermos notados e, quando o meliante acorda,
está olhando para nós, vestidos de preto – estilo tropa de elite, só que sem o
tapa na cara e com ordem judicial.
Pois bem, como não tinha jeito de
entrar de forma a não sermos percebidos, batemos palmas e começamos a chamar (sim,
não somos só tiro, explosão e bomba). Mas nada de o cidadão aparecer para nos
franquear obrigatoriamente o acesso a sua casa. Então perguntei ao delegado da
equipe: posso chutar? E ele respondeu: pode!
Meus olhos brilharam. Agora eu
vou ser o policial brabão. Nem acreditava. Realização de um sonho. E eu,
vestido de preto, Polícia Federal escrito em dourado nas minha costas, com um
coturno brilhando, peguei distância e meti o pé no portão, com toda a força
disponível. O que aconteceu: o portão foi e voltou. A cerca de madeira,
flexível, amorteceu o chute e nada aconteceu. E eu prossegui chutando, e o
portão balançava, indo e vindo, mas não abrindo. Foram uns 10 chutes ou mais, e
nada de o portão abrir. Cacete, nos filmes policiais não é assim, é sempre mais
fácil, pensei!
Até que, por causa do barulho dos
chutes, o dono da casa acordou e foi lá fora ver o que estava acontecendo. Eu,
percebendo o quão inútil era eu chutar, já tinha parado. Assim que ele abriu a
porta da casa, o delegado informou o porquê de estarmos lá. Então o “mala” se
dirigiu ao portão, desentortou um prego que travava o portão, e abriu. Sério,
era um mero prego que segurava o portão fechado. Fico imaginando como o
policial do filme abre com apenas um chute aquelas portas de segurança!
Desilusão total.
Lição aprendida: leve uma escada,
alicate, e abra por dentro. Já aconteceu de a entrada da casa ser uma grade de
ferro e, nesse caso, tivemos que cortar o cadeado para abrir. Ou seja: a
maioria das vezes só o chute não resolve.