Informação passada pela inteligência: traficantes vão fazer uma entrega numa fazenda X, de 40 quilos de cocaína/ pasta base. Objetivo da missão: Interceptar a droga e o comprador com o dinheiro, carro e tudo que puder mais. Busca e apreensão caso dê o flagrante.
E foi assim que começou uma das missões mais legais que já participei. Foram divididas uma equipe de vigilância e uma equipe de assalto. Eu fiquei com um dos rádios da equipe de vigilância.
Chegamos de carro a alguns quilômetros do local onde os compradores iriam buscar a droga. O restante iríamos a pé pelo meio do mato. Estava chuviscando. Isso é ruim pela sensação de ficar todo o tempo molhado. Mas é bom para chegarmos mais perto do alvo sem sermos notados, já que o mato molhado não estala e o barulho da chuva confunde quem tenta ouvir alguém se aproximando.
O local era uma fazenda no meio do nada. Cercada de mato e estrada de terra. Tinha uma casinha pequena no lugar, onde se acreditava estar o vendedor da droga e a droga. A inteligência nos passava pelo rádio as ligações em tempo real feitas pelo comprador com o vendedor.
O rádio também servia para comunicar com a equipe de assalto e avisá-los quando seria a hora de agir. Porém, chegamos de tardezinha no local. Ainda muito iluminado para chegarmos perto. A equipe de vigilância tentaria chegar o mais perto possível. Perto o suficiente para tentar ouvir a conversa dos traficantes. Para isso teríamos que aguardar a noite cair. E assim fizemos. Avisei no rádio: pessoal, não tem como chegar mais perto de dia. Vamos aguardar a noite para aproximar bem. Tivemos que esperar uns 40 minutos.
Ao cair da noite, começamos a nos mover novamente. Rastejando no mato alto, com todo o cuidado. O rádio ia no volume mínimo para que não fôssemos descobertos. Até a luz piscante do rádio eu tinha que tampar com o dedo para não nos denunciar.
Atravessamos um ramal (pequena estrada de barro) com todo cuidado, pois ali poderiam nos ver fácil, já que estaríamos momentaneamente sem a proteção do mato. Chegamos perto da cerca da fazenda, bem próximo a casinha. Podíamos ouvir as ligações do traficante com o comprador, que depois nos era passada pela inteligência. Mas ouvíamos em primeira mão, antes da inteligência nos passar, e começamos a manter a equipe de assalto atualizada.
Nessa hora temos que segurar a ansiedade, pois poderíamos perder tudo caso fôssemos precipitados. Tínhamos que esperar a droga e o comprador estarem juntos com os traficantes.
Nós estávamos parados bem perto de uma estrada a qual nem eu nem a equipe tínhamos visto. E foi um vacilo que quase nos custou a missão. Num certo momento o traficante mandou o outro pegar alguma coisa no fundo da fazenda. Chamá-lo-ei de Bilu. Bilu foi buscar algo e saiu caminhando na nossa direção. Foi quando eu percebi o quão próximo dessa estrada nós estávamos. Porque ele veio quase pisar na gente. Abaixamos as cabeças e torcemos para que ele não nos visse. Passou a menos de 1 metro de distância. Coração batendo na garganta. Bilu foi e voltou, mas não nos viu! Essa foi por pouco. Por muito pouco.
De repente começamos a ouvir barulho de carros se aproximando. Era a compradora. Chegou fazendo muito barulho, podíamos ouvir claramente o que ela queria: A cocaína. Nessa hora a equipe de assalto falou no rádio: vamos entrar! Pude perceber que eles também estavam bem próximos e ouviram a conversa, ou ela falou alto demais.
Eu falei pra equipe: segura, não sabemos se o traficante já pegou a droga escondida. Eles me escutaram e seguraram. Até que o traficante anunciou que estava com a cocaína em mãos, e perguntou para a compradora: - cadê o dinheiro? A compradora foi buscar no carro. E, nessa hora, antes mesmo da equipe de vigilância gritar para atacar, a equipe de assalto saiu do mato gritando: Polícia Federal, ninguém se mexe!
Pegamos a droga, o dinheiro, e recebemos muitos parabéns dos professores que estavam coordenando o exercício. Porque na ANP você também pratica como se fosse real. E foi bom demais. E percebemos que é muito mais tempo de preparação que de ação.
ps.: Sugestão de textos são sempre bem vindas.