Hoje a história não tem nada de policial. Tendo dito isso, vamos a ela.
Eu me solidarizo com as pessoas. Principalmente com as mais necessitadas. E quando elas são injustiçadas, isso me deixa com lágrimas nos olhos. Elas não tem a quem recorrer. Não tem quem as proteja, se não a polícia e ao Ministério Público. E muitas vezes a polícia não se interessa, e isso me deixa puto. Sério que você está vendo alguém precisando muito de ajuda e não vai nem tentar ajudar? Você é o que eles têm de recurso! E outras vezes não temos como ajudar. E isso me deixa triste. Porque o MP é lento devido à grande quantidade de processos. Mas quem tem fome tem pressa, aplicando esse ditado a direitos lesados.
No interior onde estou, atendemos muitas pessoas carentes. A grande maioria! Para vocês terem uma ideia, 40% da cidade vive de bolsa família ou algum tipo de auxilio governamental, como o auxilio pescador (nem tenho certeza se esse é o nome do auxilio).
Uma grande parte é agricultor. Agricultura pequena, já que aqui na selva não se pode ter grandes latifúndios desmatados, conforme leis ambientais. E isso prejudica muito o pequeno agricultor. E finalmente chegamos na parte da história onde eu queria chegar.
O ICMBIO é o órgão que faz diversas incursões nos interiores daqui para fiscalizar esses desmatamentos desregrados. E ele tem poder de multar, com multas pesadas, quem desmata fora das regras.
Um senhor e sua família vieram prestar depoimento sobre um crime ambiental ocorrido em algum lugar, que eu não sei onde é. Conversei com ele um pouco. Senhor matuto, com mais de 50 anos, mãos calejadas da agricultura e pecuária, porém muito inteligente.
Eles foram intimados pelo rádio, estão hospedados numa cidade que fica a 1 hora de viagem daqui. Porém, de onde eles moram, para chegar nessa cidade, demoraram 2 dias de viagem. Veja bem, os caras vieram depor, por intimação por rádio, numa cidade que fica a 2 dias de distância. Se fosse comigo, com meus conhecimentos, eu não viria. Mesmo porque nesse tipo de intimação, caso eles não aparecessem, não aconteceria nada. Mas as pessoas são honestas e querem resolver seus problemas. Eles vieram apesar dos pesares.
E o senhor, pai da família, estava me contando que o ICMBIO foi nas terras dele, multou em mais de R$ 50.000,00 e, para pagar isso, levou 35 cabeças de gado da fazenda dele de forma tomada, ou seja, foram lá com a polícia civil e tomaram o gado, obrigando ele a pagar a multa (dentro da lei). Digam-me quem entende, qual é a eficácia desse tipo de medida? A pessoa vive disso. Agora o gado tá em algum lugar, morrendo, segundo ele, já que o estado não consegue cuidar e nem tem recursos para isso. Por que não orientar e ensinar uma pessoa dessas, para que não faça de novo e aplique os novos conhecimentos com os filhos/netos e amigos?
Agora ele está correndo atrás do MP para tentar reaver as cabeças de gado, caso sobre alguma viva. Porém o MP fica aqui na cidade, 2 dias de viagem de distância da fazenda dele. E o cara não tem recursos e nem tem quem ajude. É triste ver o estado fazendo isso com pessoas necessitadas de fato. Sou um policial de coração mole, isso que eu percebi. E me sinto de mãos atadas. O meu "escape" foi relatar aqui. Talvez eu me sinta um pouco melhor.